domingo, 17 de janeiro de 2016

TEXTO DE ÂNGELA M. S. VAZ À MARTHA MEDEIROS




                                    Martha Medeiros

O assunto hoje é praia!  “Que praias serviram de cenário para sua história ?” (frase extraída da de crônica publicada na Revista O Globo 06/12/2015 por Martha Medeiros).

Prezada Martha Medeiros

 Sua pergunta mexeu comigo. Sabe por que ?  Sou carioca da gema ... ih gema, alguém ainda fala isso ?  Já viu né ? Nasci no final do anos 40. Ah...  do século passado.  Praia, banho de mar e vida...  Pois eh!  Tudo fundido na memória como uma coisa só.  As vivências, família, valores, escolhas na nossa vida, casamento e nova vida constituída...  Fiquei na Zonal Sul até hoje, mas a praia tá tão longe aqui do Jardim Botânico... nossa!  Esqueci a ultima vez que tomei banho de mar!  E, agora, ver a beira da praia, só de carro e de passagem para as compras, médicos, dentista ou mostrá-la para algum visitante...  E nossas escolhas ... As primeiras recordações de infância? Praia da Urca, com o cassino da Urca ao fundo. Praia linda baldinho, irmãos, muita brincadeira e subindo ladeira S. Sebastião na volta pra casa.  Década de 50.  Aos sete anos, muitos irmãos e... morando numa  vila em Botafogo, o banho de mar era em Ipanema. A praia aos domingos vista de perto, da casa do tio-avô.  A casa deles ficava numa esquina de Ipanema, muro baixinho, vista para a praia. Pouca gente, praia quase deserta. Algumas idas para mergulho e brincadeiras, castelinhos de areia, primos, fotos, muita arte, histórias de viagens à Europa para estudos... tudo junto!  Na década 60.  Adivinhou ? Castelinho e Arpoador, saindo direto da vila em Botafogo, tomando o lotação, com a turma de irmãos, primos, vizinhos. Sozinha nem pensar!  Frescobol, jacaré (só para os homens). Mas, tinha a torcida, claro. Passava o vendedor de biscoito Globo... Tem também o lance do maiô para o “duas peças” ou “biquíni”. Conversas em família, pode não pode, quem da turma já usando... Mas qual o modelo permitido ?  Fora as que usavam escondido dos pais. Primeiras paqueras com desconhecidos (não eram da turma).  E tinham que se enturmar com todo mundo, para o namoro ir para adiante.  Porque, depois o compromisso implicava em ir junto com a turma para os “arrastapés” ao som da vitrola, passeios, festas juninas com dança de quadrilha, time da turma de vôlei, futibol... Primeiras viagens sem os pais para o nordeste. E, muita praia e com carnaval, tudo junto!  Década de 70 continua a praia em Ipanema. Nossas escolhas ?  Estudar muito, ser independente financeiramente trabalhando e estudando... concursos, mestrado... curso de desenho.. E a praia menos frequente, claro... Mas cadeirinha de praia e a gente fazendo caminhos com o calcanhar só quem viveu sabe o que é.  O namoro e o casamento com goiano do interior... Trabalho, filho, família.  A praia ficou longe... Década de 80.  A salvação ?  Mamãe e Papai mudaram para o Leblon, bem pertinho da praia. Que saudade!  Livre acesso na casa deles para estacionar, lavar os pés sujos de areia, tomar banho após a praia, com direito a um lanchinho. O banho de mar no Leblon...  Ah não era como Ipanema, valia a caminhada para o mergulho. Valia mesmo a caminhada na areia ao longo da orla. Valia levar filho e sobrinhos.  Vida boa! Ah mas, tinham as escolhas. Na década de 90, o doutorado onde? no interior paulista. Onde fica a praia mesmo heim ?  E continua perto da casa da mamãe, agora com a orla liberada para a caminhada de domingo. Mergulho rápido. E o almoço ?  E o sol a pino no verão? e o alarme sobre o câncer de pele? Mas valia ver o por do sol no verão...  Novo século, onde fica a praia mesmo heim ?  Esta bem ali, mas tá longe... E as nossas escolhas... Obrigado à vida ... Ass. Angela Maria Studart da F. Vaz

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