quinta-feira, 23 de abril de 2020

HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA


                                     MEMÓRIAS DE UM OITENTÃO (8)
                               GUILHERME PALMEIRA



        Somos amigos há muitos anos, nossos pais eram amigos, nossos avós e bisavós, somos amigos desde quando éramos índios caetés povoando o litoral alagoano. Quando eu morava no Rio nos anos 50, vez em quando ia à casa de Guilherme Palmeira na Rua Almirante Guilhobel. Depois de um bom almoço dominical, partíamos para o Maracanã assistir vitórias do Fluminense.
     As férias de verão em Maceió eram maravilhosamente aproveitadas: praia da Avenida, Pajuçara, réveillon da Fênix, carnaval nas ruas e nos clubes. Bela época dos anos dourados, vivíamos nossa cultura popular, época do cinema novo, da bossa nova. Revolução dos costumes, queríamos também transformar o mundo, como qualquer jovem.
   Certa vez no Engenho Prata, São Miguel dos Campos, em conversas e cervejinha gelada, Guilherme Palmeira comunicou ser candidato a deputado estadual nas eleições de 1966, alegria geral. Dias depois Esdras Gomes distribuía adesivos, GP 66. Foi uma vitória retumbante, iniciava naquele momento uma carreira política das mais admiráveis na história das Alagoas.
  No final de 1967 eu servia na 9ª Companhia de Fronteira, Roraima, fui promovido a Capitão e transferido para 20º Batalhão de Caçadores em Maceió. Ao chegar em casa pela  tarde, coloquei um calção desci à praia da Avenida, depois de um bom mergulho e braçadas naquele mar azul do tamanho do mundo, fiz uma promessa, nunca mais sair de Maceió. Cursei engenharia, deixei a carreira militar e cumpri a promessa.
 Naquela época Maceió era uma festa, tempo bom de viver na cidade amada, ensolarada Muitos amigos, muito calor humano, juventude sadia. Formamos um quinteto inseparável: Guilherme Palmeira, Marden Bentes, Eduardo Uchoa e Galba Acioly, solteiros e bonitos, fazíamos a festa aonde chegássemos. Éramos conhecidos entre as melhores famílias, entre as jovens deslumbrantes, como também nos bares e lugares não compatíveis às moças casadoiras. Convidados para batizados, casamentos, aniversários, alegrávamos as noites com bom humor e fidalguia. Jovens boêmios, considerados bons partidos, custamos a casar.
  Acompanhei a vida política de Guilherme Palmeira: deputado, governador, senador, prefeito de Maceió. Finalmente Ministro do Tribunal de Contas da União, aposentado se estabeleceu em Brasília, nunca esqueceu sua querida Alagoas. Vez em quando às sextas feiras reúne amigos na varanda do apartamento, praia da Ponta Verde para conversas e uma rodada de uísque.
Em 1988 houve eleição para prefeito de Maceió. Renan Calheiros candidatou-se tendo como vice o deputado Sabino Romariz, o mais votado na Assembleia, era uma chapa imbatível Nas pesquisas o IBOPE lá em cima. Como enfrentar o Renan? Em uma reunião da oposição, Benedito de Lira deu a sugestão: Guilherme Palmeira para prefeito e João Sampaio, vice. Fiz parte da coordenação de campanha. Fomos à rua, Guilherme visitou toda biboca de Maceió, chegávamos tarde às nossas casas. Afinal o dia da eleição, logo depois a apuração na mão, voto a voto, disputa acirrada. Final maior vibração. Guilherme ganhou por 6.845 votos Fomos para Avenida da Paz comemorar a vitória com uma passeata inesquecível
Guilherme prefeito, eu assumi uma Diretoria da Limpeza Urbana depois fui Secretário de Desenvolvimento Urbano. Travamos campanha e briga contra qualquer tipo de poluição. Descobri que era proibido colocar qualquer tipo de placa ou outdoor na ladeira da antiga rodoviária, anunciei que ia derrubar todas as placas e outdoors. Na véspera, ao término do expediente, recebi um telefonema de um advogado avisando que no dia seguinte ele daria entrada com uma liminar de um juiz na Secretaria cancelando a derrubada dos outdoors. Fiquei a pensar sozinho em meu gabinete. Tomei a decisão, convoquei os funcionários, fiscais, caminhão, para sairmos às seis da manhã, antecipei, derrubamos todos outdoors. Foi lindo aparecer uma mata verde exuberante que estava escondida. A liminar chegou às minhas mãos no local às nove da manhã, a derrubada já havia acontecido. O juiz mandou me prender. Eu me escondi em uma casa em Paripueira. Guilherme tomou as dores, assumiu ter ordenado aquela ação. Só não fui preso devido ao pulso firme de Guilherme e a competência do advogado Diógenes Tenório de Albuquerque em minha defesa. Lembrei esse fato mostrando a firmeza de caráter, honestidade, amor à sua terra, sapiência e liderança de Guilherme Palmeira, o melhor prefeito da história de Maceió. Desculpe o Rui. Hoje Guilherme vive cercado de amigos que o admiram. Ele orgulhoso do filho, Rui Palmeira, seu herdeiro político na decência e no amor à Maceió.

OBS – Esta série de artigos: “MEMÓRIAS DE UM OITENTÃO”, será um livro em comemoração aos 80 anos do autor neste 2020.
 

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