quinta-feira, 26 de março de 2020

OPINIÃO DO GUZZO.

J.R.GUZZO


TRAGÉDIA

É uma tragédia que o Brasil, justo quando está sob o ataque da epidemia de propagação mais rápida dos tempos modernos, tenha jogado a ciência no lixo para discutir o presidente Jair Bolsonaro. Não apenas a ciência foi abandonada em favor da disputa política. Junto com o conhecimento, foram declaradas questões de interesse secundário, ou nem isso, a lógica, a busca de uma real eficácia no combate público à doença, o respeito aos interesses da maioria e a noção de que os governos existem para servir, e não para tirar vantagens das horas de desgraça. Os seres humanos, e eles são mais de 200 milhões, foram esquecidos.
As pessoas com responsabilidades a cumprir nessa crise, pelos cargos que ocupam nos governos ou em áreas onde se decide alguma coisa, não estão jogando no mesmo lado. Uma parte se dedica honestamente, se sacrifica e se arrisca para saber mais e cuidar melhor do combate ao coronavírus. Outra parte é apenas inconsciente, ou estúpida: dedica-se compulsivamente a copiar o que fez o vizinho, não quer estudar nada e acha que deve proibir o máximo das atividades humanas, na crença de manada que é isso – o isolamento, a quarentena e a proibição do contato entre as pessoas – que a maioria da população quer no momento. A parte que sobra é a dos que querem tirar vantagem da calamidade.
O Brasil não é um país unido na guerra contra um inimigo comum. É um país dividido em facções – e quando essas coisas acontecem uma das primeiras vítimas é a liberdade de pensamento. Há uma interdição rancorosa às ideias divergentes, às dúvidas e às propostas que não sejam as suas. É o que está acontecendo hoje. Há uma verdade só, o confinamento máximo, e quem discordar – ou meramente sugerir uma abordagem diferente – passa a ser tido como um inimigo público. Tudo se reduz a uma pergunta: você é contra ou a favor do que o presidente Bolsonaro está dizendo? O resto não interessa.
O que o presidente acha ou não acha não vai fazer diferença nenhuma. E se ele parar de falar do assunto pelos próximos 90 dias – por acaso o vírus irá embora? Ou, ao contrário, vai ficar mais agressivo? O que vai decidir as coisas é o acerto, maior ou menor, das medidas todas em defesa dos reais interesses do público. Está cada vez mais óbvio, em cada vez mais países, qual é a prioridade suprema do momento: conseguir combinar a volta da normalidade na produção e nas relações humanas com o máximo de segurança para a saúde pública. Quem está realmente trabalhando para isso no Brasil?

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