A Coroa
Poderosa
Gerson é um homão, trinta e poucos
anos, mais de 1,80 metros de altura, corpo de atleta, cara bonita. Xodó das
meninas no tempo de solteiro. Hoje advogado brilhante, ambicioso, atuante.
Ao contrário de muitos especialistas
defensores de que a beleza feminina está no auge entre 17 e 22 anos, Gerson assegura
que o auge da beleza feminina está na maturidade. Uma mulher de quarenta,
cinqüenta, sessenta anos, sabe o que o homem gosta; é bela em sua elegância, em
saber o que deseja.
Meses atrás, Gerson frequentava um curso
de pós-graduação com alguns colegas advogados, promotores, juízes, inclusive
uma advogada, cinquenta e poucos anos, senhora letrada, inteligente, de um bom
humor notável. Ele teve uma empatia instantânea com essa madame, viúva, bela e
gostosa.
Dora, três casamentos além de casos
amorosos. O mais rumoroso, por certo, com um governador do Estado. Teve também
um discreto caso com uma artista da rede Globo, que se apaixonou, passava fim
de semana em Maceió, para estar com esse belo espécime de mulher.
Dora foi muito poderosa nos bastidores
da política. Nas brigas do poder ela metia a mão de ferro, elegantemente, protegendo
seus partidários no emaranhado da corte. Seja no poder Executivo, Judiciário ou
Legislativo, durante o mandato de seu amante governador, ela foi ouvida, teve
poder de decisão. Esse poder não conquistou à-toa, foi pela inteligência,
firmeza e posições tomadas, principalmente na cama.
A
coroa tem ânsia de viver. O mais de meio século não deixou marcas na jovem alma.
Mulher alegre, corpo bem cuidado, bem moldado; teve ajuda, certamente, das
academias de ginástica e cirurgiões plásticos.
Mulher de muita leitura, gosta de fazer
cursos, atualizar-se, aprender. Gerson e Dora frequentavam o mesmo curso há
dois meses. Todas as noites estudavam juntos, gostavam da companhia recíproca.
Ele a via como uma irmã mais velha, mas havia atração, apreciava os decotes
ousados dos vestidos de nossa musa.
Certa noite, os colegas foram terminar um
trabalho em grupo no espaçoso apartamento de Dora na praia de Ponta Verde. Mais
de duas horas de discussão numa mesa circular, deixaram a conclusão do trabalho
para outro dia. Dora ofereceu um gostoso lanche: moqueca de siri mole, regado a
vinho branco e uísque. Foi o ponto alto da noite. O grupo se divertiu até
tarde, ouvindo boa música, papo alegre, inteligente. Gerson dedilhando um
violão, cantou: “Dora, rainha do frevo e do maracatu...”. Recebeu um beijo
lambido no ouvido.
Foi sugerido continuarem os trabalhos no
sábado, no mesmo local.
Sábado pela manhã, Dora foi ao mercado
comprou camarão e arabaiana, o prato da noite, filé de peixe ao molho de
camarão. Ligou para todos os componentes do grupo, se desculpando, pedindo
adiar o trabalho para terça-feira. Só não telefonou para Gerson.
Quando ele, carregando livros e papéis
embaixo do braço, pontualmente tocou a campanhia, Dora abriu a porta do
apartamento, com um largo sorriso e um boa-noite, estava maravilhosa de vestido
azul colado ao corpo. Gerson estranhou quando sua amiga falou no trabalho
adiado. Convidou-o para entrar, seria uma companhia agradável se ficasse para
jantar.
Sentaram-se na varanda com vista à
praia iluminada por uma azulada lua bonita refletida no mar e nas palhas dos
coqueiros. O uísque rolou, bons tira-gostos, até Dora servir o peixe com
camarão.
Ao
voltar para a varanda, colocou uma música suave, americana, iniciava assim:
“Heaven I’am heaven...”, isso é, “Paraíso, estou no paraíso”.Gerson deu-lhe a
mão, saíram dançando, escorregando pela sala, ele cantava a canção em seu
ouvido, puxava seu corpo com vigor, iniciaram uma seção de carinho e carícias,
até ela sussurrar, pediu para ser levada ao quarto. Num impulso, colocou-a nos
braços como se fossem recém-casados, empurrou a porta, entrou no quarto,
soltando-a ternamente na cama. O resto é silêncio, como diria Shakespeare.
Depois dessa noitada de muito
amor, os dois continuam se encontrando secretamente no mínimo duas vezes por
semana, para uma seção de matinê na suíte presidencial do belo apartamento da
coroa, que continua poderosa.
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