J. S. Mill (1806-1873), filósofo e economista inglês, um dos pilares do capitalismo, escreveu “No final das contas, o valor de um Estado é o valor dos indivíduos que o compõem”. Abre-se, com o pacote de reforma do Estado brasileiro, entregue ao Congresso mais reformista da história, como disse o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, a tarefa de aprovar a mais abrangente das reformas, que mexe na estrutura de um Estado patrimonialista e elitista. As idéias por trás das propostas apresentadas pelo governo nesta semana, no pacote do Guedes, são ótimas. O Brasil, de fato, precisa descentralizar recursos, cortar gastos quando houver uma emergência fiscal, , acabar com municípios sem viabilidade, usar o dinheiro que está empoçado em fundos públicos, reduzir subsídios e isenções insustentáveis. A viabilização disso é um desafio a ser enfrentado, para o qual será necessário ter capacidade de liderança, persistência e um ambiente de equilíbrio e sensatez.
Guedes lidera a parte que funciona no governo, trabalhando com o Congresso e aceitando os questionamentos do mesmo em relação às propostas de seu pacote que são inviáveis, como a redução de gastos com a educação e a saúde, irá alinhando o desejável ao viável. O que muito o atrapalhará são os desatinos repetidos da parte ideológica do governo, como o tresloucado ato do deputado Eduardo Bolsonaro , pregando a restauração do AI-5, agravado pelo apoio do general Augusto Heleno, que declarou: “Tem de estudar como vai fazer, como vai conduzir. Acho que, se houver uma coisa no padrão do Chile, é lógico que tem de fazer alguma coisa para conter. Mas, até chegar a esse ponto, tem um caminho longo”. O general Heleno, um militar com uma respeitável história, recuperou a lucidez e já pediu desculpas pela insensatez de ter apoiado o 02 e afirmou desconhecer o bruxo Olavo de Carvalho. Olavo, o guru, ideólogo ou seja lá o que for, que mora na Virgínia (EUA) há anos, e de lá emana seu poder maléfico sobre os filhos de Bolsonaro, sobre o chanceler, o ministro da Educação e outros, e vem causado um estrago entre os militares mais graduados no governo. Nesta semana, mais um general de quatro estrelas, Maynard Santa Rosa, foi demitido. Ele era tão preparado quanto os outros generais que já foram defenestrados no atual governo: Jesus Correia (Incra), Juarez Cunha (Correios), Franklimberg de Freitas (Funai), além de Carlos Alberto Santos Cruz. A demissão mais mal digerida foi a do General Santos Cruz da Secretaria de Governo. Assim como Santa Rosa, ele também despachava no Planalto, a poucos passos do gabinete presidencial, onde só trabalha quem tem a confiança do presidente. Santos Cruz, todavia, trombou com essa ala ideológica, e é uma pena que entre um general de primeiríssima linha e um guru de quinta, o presidente tenha optado pelo guru. Em entrevista ao jornal Estadão em dezembro de 2016, o então comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, informou que “tresloucados e malucos” batiam às portas das Forças Armadas pedindo a volta dos militares ao poder e que, de pronto, ele advertia que algo assim tinha “CHANCE ZERO” de acontecer. As Forças Armadas, pela sua cultura de disciplina, têm se mantido silentes, o que não quer dizer que concordam com o que foi feito aos generais depostos, em especial a Santos Cruz e Santa Rosa, além do que estão atentos ao alerta da caserna: “Quando a política entra no quartel por um portão, a disciplina sai pelos outros”. A democracia brasileira já se defrontou com problemas gravíssimos - como uma hiperinflação gigantesca, dois afastamentos de presidentes da República, a condenação e a prisão de um presidente extremamente popular— e os superou, utilizando unicamente as ferramentas contidas na Constituição nacional. As Forças Armadas evitarão os surtos paranóicos dos radicais extremistas e cumprirão a sua missão constitucional.
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