A TARADA DA JATIÚCA
Ninfômana, segundo
Aurélio Buarque de Holanda, o maior dicionarista da língua portuguesa, é uma
mulher que tem tendência patológica ao abuso do coito, à compulsão ao amor
carnal, ao ato sexual. Doença também chamada de uteromania, furor uterino, ou
seja, no popular, simplesmente uma mulher tarada.
Depois dessa explicação médica-científica,
posso contar o caso da loura gostosa que está atacando homens desavisados
durante as caminhadas noturnas na orla da Jatiúca. Mais de oito ocorrências
foram constatadas e comprovadas nas últimas semanas. A notícia já se espalhou
na cidade, e logo aumentou o número de homens andando no calçadão nas noites
mornas da praia de Jatiúca. Não deixa de ser um incentivo à saúde e à qualidade
de vida.
Para os que me acusam de mentiroso, de
inventar histórias, provo o acontecido com o depoimento de um homem íntegro e
honesto, Bolívar; mais um que caiu na esparrela da tarada da Jatiúca. Ele
contou-me a história como de fato aconteceu. Ainda está atordoado, só pensa na
maravilhosa noite que passou com a loura sarada e tarada, idade indefinida
entre 40 e 50 anos, e disposição sexual de uma adolescente transbordante de
hormônios.
Bolívar é trabalhador, proprietário de
duas revendas de veículo seminovo. Toda manhã é o primeiro a chegar à loja, só
sai depois das dezenove horas, ao encerrar o expediente. Vendedor nato, nenhum
de seus empregados tem o carisma, o fascínio de convencer ao cliente como o
patrão. Bem casado, dois filhos, forma uma família exemplar. Toda noite, ao
retornar do trabalho por volta das sete e meia, veste um short frouxo, um velho
tênis e uma camisa larga, GG, tamanho maior que o seu. Bolívar caminha
diariamente dez quilômetros na orla da Jatiúca. Depois entra numa roda de
conversa com amigos respirando a brisa gostosa da noite. Ao voltar para casa,
toma banho, veste um pijama, assiste um pouco de televisão. Gosta de novelas. É
competente, no mínimo, três vezes por semana faz amor com Manuelita, sua
querida mulher. Resumindo, é um cidadão comum, de bem com a vida.
Semana passada Bolívar confidenciou-me:
Ele caminhava à noite na orla da Jatiúca. Ao passar pela Barraca do Siri, uma
senhora correndo devagar, aproximou-se e perguntou se podia acompanhá-lo na
caminhada, tinha receio de ser assaltada. Ele, gentil, tranquilizou-a, informou
que não conhecia algum caso de assalto naquelas bandas. E que seria um prazer
sua companhia. Os dois caminharam juntos em direção à praia de Cruz das Almas
conversando amenidades. Ela apresentou-se, era paulista, morando em Maceió, a
cidade mais aconchegante que encontrou, amou as praias e o povo da terra. Ao
caminhar pela ciclovia por trás do Hotel Jatiúca, a loura achegou-se mais
perto, Bolívar sentiu o inebriante perfume. Retornaram. A conversa estava mais
que animada, contaram piadas picantes e inteligentes. Ao passar diante de um
belo edifício, a bela coroa convidou Bolívar a tomar um drink em seu
apartamento. Segurou sua mão, perguntou: vamos?
Ao entrar na quitinete nosso herói foi
despido de maneira brutal. A mulher arrancou-lhe o velho calção frouxo e beijou
seu peito cabeludo. Surpreso com tanta energia da parceira, ele correspondeu
com a virilidade de homem de 50 anos. A loura tarada puxou-o para cama. Amaram-se
feitos dois animais. Os detalhes da peleja, Bolívar não me contou. Entre uma e
outra refrega, ele teve descanso apenas enquanto tomava banho e se reabastecia
de azuladinha oferecida pela anfitriã. Foi uma noitada de uísque e amor com a
bela coroa. Já passava da meia noite quando Bolívar entrou em casa. Manuelita,
deitada, sonolenta, perguntou por onde andava. Ele respondeu: “conversando com
os amigos na orla”. Tomou um banho, vestiu o pijama, dormiu como um anjo. Sonhou
no meio de um bacanal com muitas louras saradas, tatuadas e taradas. No dia
seguinte acordou-se ainda com efeito da pílula, apreciou a esposa apenas de
calcinha. Não teve dúvida, pulou por cima. Manuelita acordou-se feliz da vida
com a energia do maridão.
Quando Bolívar soube de outros casos iguais
com a loura tarada, ele, agora, encerra o expediente mais cedo, inicia sua
caminhada noturna olhando para os lados, caçando a galega. Já a encontrou duas
vezes e ficou ciúme quando a viu andando, acompanhada, uma vez com um vereador,
outra vez com conhecido surfista. Ao passar, ela piscou-lhe o olho, enchendo-o
de esperança. Bolívar não desiste, contou-me que, continua caminhando toda
noite, procurando, tem esperança e certeza em encontrar a loura, desacompanhada.
Como chegou o verão, o Sol está forte
queimando as costas, braços e pernas, decidi trocar minhas caminhadas matinais
por caminhadas noturnas. Agora, também caminho toda noite pela orla da Jatiúca.
Quem sabe?
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