Coco
Verde
Eram quatro horas da tarde, ela vestiu
um biquíni que pouco encobria o corpo firme e conservado de uma mulher madura.
Desceu à praia e caminhou descalça na areia fina por mais de meia hora, como se
estivesse tomando posse do lugar. Estava fascinada com tanta beleza. –“Esta é
minha praia”, disse para si mesma. Retornou caminhando à beira mar, sentindo no
corpo os pingos das marolas molhando seus pés. No calçadão tomou água de coco,
sentou-se num banco, absorta, embevecida com o Sol se pondo lá para o fim do
mundo. O entardecer alaranjado deu-lhe um sentimento de paz e tranquilidade.
No Hotel conheceu um grupo de turistas,
coroas; convidaram Laurinha para uma volta noturna na cidade. Foi uma noitada
agradável na casa de dança Burguenvíllia. Conheceu um advogado alagoano, moreno,
sessentão, contumaz frequentador daquela casa onde se divertem os solteiros
mais descolados da cidade. Tenorinho é uma figura polêmica, cheio de conversas
fantasiosas, encanta e diverte qualquer roda. Uma vida pessoal com muitos
atropelos, três casamentos desfeitos. Tenório se gaba com amigos de ser o maior
caçador de turista nas noitadas maceioenses. Laurinha caiu em suas garras,
acordou-se em seus braços num pequeno apartamento na praia da Ponta Verde.
Foram três semanas e meia de
amor. Laurinha deixou para conhecer o Nordeste em outra viagem. Tenório ficou deslumbrado
com as mãos mágicas da parceira, além de engenheira, ela é excelente
massoterapeuta. Nas horas vagas de amor,
eles fizeram turismo nas praias do Litoral Norte, Litoral Sul. Laurinha,
católica praticante, encantou-se com as igrejas, o Museu de Arte Sacra da bela cidade
barroca e histórica de Marechal Deodoro. As férias acabaram. A mineira retornou
à sua terra, muitas lembranças e saudades daqueles dias nos braços de
Tenorinho. Em Juiz de Fora contou às amigas suas aventuras e os passeios
maravilhosos com um alagoano bem humorado, baixinho, de seu tamanho.
Três meses depois aconteceu um feriadão.
Laurinha não teve dúvida, comprou passagem, instalou-se novamente no Hotel
Atlantic. Ela retornou com todo charme da mulher mineira, pensando em curtir as
praias, os belos coqueiros, tomar água de coco, olhar para o azul do mar. Assim
que pôde fez a surpresa: telefonou para Tenorinho. Acontece que o pilantra,
surpreendido, deu uma desculpa esfarrapada. Ele estava dando assistência a uma
turista norueguesa. Laurinha não se comoveu, percebeu que sua paixão não era o
homem, sua paixão era aquela cidade tropical, a suave brisa, e a beleza
inimaginável da cor do mar. Na manhã seguinte caminhou na praia, mergulhou no
azul piscina, satisfeita da vida porque estava em sua terra adotada e adorada.
Sabia o caminho da noitada partiu para o Burguenvíllia, não ficou solteira
durante o feriadão. Esqueceu Tenório desde que desligou o
Telefone.
Agora, tornou-se rotina, todas as férias
e feriadões, Laurinha viaja à Maceió. Fez vários amigos na cidade, frequentadora
do Orákulo, do Caldinho do Vieira, sem esquecer o Burguenvíllia. Outros
namorados aconteceram. Reviu o Tenorinho algumas vezes, ele convidou, insistiu
em levá-la a passeios, ela negou apenas com um gesto, balançando a cabeça.
Dezembro passado Laurinha entrou em férias,
alugou um apartamento mobiliado na praia da Jatiúca. Brindou o Réveillon na
praia. Juntou-se aos amigos, muitos fogos, dançou ao ar livre, divertiu-se
curtindo até o amanhecer do novo ano. Acordou-se depois do meio-dia, foi à
varanda do apartamento, bocejou, estirou-se com preguiça no corpo, deu vontade
de tomar uma água de coco. Desceu à praia, pediu ao rapaz abrir um coco. Ele
cortou com uma rapidez fantástica. Laurinha ficou impressionada com a perícia e
o corpo musculoso, espadaúdo e brilhante do guapo moreno. Puxou conversa; amou
a alegria, a simplicidade do jovem Cícero, o vendedor de coco. Ela tomou água
de coco por mais três vezes. Dia seguinte, ao entardecer, pediu ao Cícero para
levar cinco cocos verdes em seu apartamento. Ao chegar, o jovem colocou os cocos
descascados na cozinha. Ela o convidou para sentar, ele sentou-se. Ela
ofereceu-se para fazer-lhe uma massagem, transaram. Durante o resto das férias,
o jovem Cícero, todos os dias, levou coco para sua amiga mineira. Às vezes dorme
relaxado com a massagem. Laurinha cada vez mais ama Maceió, curtindo a vida e sedenta
de água de coco.
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