OUTONO DE PRAGA
O autor em Dresden
Berlim, cinco da manhã, o termômetro
marcava 4° centígrados fora do hotel. Preparava-me para viagem à Praga, partida
do ônibus prevista para 6:30 horas. Um pouco de ressaca, gosto do vinho
Landwein na boca, fiz a barba, tomei um banho quente, depois de um café à
salsicha de porco, enfrentamos a estrada. Na saída da cidade revi ao longe o edifício
do Reschstag, sede do Parlamento da Alemanha. Em 27 de fevereiro de 1933 incendiaram misteriosamente aquele
prédio. O incêndio do Parlamento Alemão foi usado pelos nazistas, liderados por
Hitler, como perseguição aos opositores políticos. Iniciava a ascensão de
Hitler. Pensava nesse fato histórico quando o ônibus dobrou pegando a impecavelmente
limpa rodovia.
Pelo caminho descemos em Dresden, uma
volta na cidade mais bombardeada, mais sofrida, durante 2ª Guerra Mundial,
foram três dias horripilantes de bombardeios ininterruptos, pelo dia eram os
aviões ingleses, à noite os aviões americanos, a belíssima cidade foi
destruída, arrasada, insensatez da humanidade, igual às bombas americanas de
Hiroshima e Nagazaki no Japão.
Fiquei
surpreso com a restauração da belíssima cidade, nenhuma marca dos bombardeios.
A Orquestra de Câmara de Dresden tocava em frente a um convento naquela manhã
de quarta feira. Prosseguimos viagem à margem do histórico Rio Elba, emocionava-me
conhecer locais cheirando à História e à Guerra.
Ao meio dia entramos na esplendorosa Praga,
almoçamos num restaurante italiano, comida da Itália existe em todo canto do
mundo. Fascinado com o centro da cidade, caminhei em torno das luxuosas lojas, turistas
de todo canto do mundo, base da economia do país que se chamava Tchecoslováquia,
hoje repartido em República Tcheca e Eslováquia, perambulei o resto da tarde esquentando-me
do frio de 8° desse outono. Fui conhecer os locais onde aconteceu o movimento
político, histórico, "Primavera de Praga".
Após a 2ª Guerra Mundial os comunistas haviam
chegado ao poder na Tchecoslováquia. Nesses anos, a vida política no país tornou-se
burocratizada e autoritária, dentro dos parâmetros da União Soviética, era o
processo da "stalinização", em referência ao ditador soviético Stalin. Em janeiro de 1968 Alexander Dubcek
assumiu o cargo de secretário-geral do Partido Comunista tcheco. Imediatamente
Dubcek, colocou em prática um audacioso
plano de reformas políticas, econômicas e sociais visando "humanizar"
o regime. No plano de reformas constavam a liberdade de imprensa, o fim do
monopólio político do Partido Comunista, a livre organização partidária, a
tolerância religiosa, entre outras medidas que apontavam para a democratização
do país.O movimento liderado por Dubcek contou com o apoio de intelectuais e da
população do país. Entretanto, não agradou a Stalin, a 20 de agosto de 1968,
tropas soviéticas invadiram a Tchecoslováquia. Os tanques tomaram a capital
Praga e, ao invés de encontrarem tropas tchecas armadas e resistentes, depararam-se
com uma reação pacífica. Os tchecos inconformados com a invasão armada da União
Soviética, se deitavam na frente dos tanques, conversavam com os soldados
pedindo que retornassem à URSS. Os soviéticos prenderam Alexander Dubcek, levaram para Moscou junto com outros líderes
tchecos, acabando o curto, entretanto, significativo movimento conhecido como
Primavera de Praga. As reformas políticas de Dubcek viriam vinte anos depois
com a derrocada do comunismo na
Europa Oriental.
Praga
cidade de muita história, cultura e arte foi desde o século IX cenário dos
intercâmbios comerciais e culturais, centro do mercado do Leste Europeu. Na
Praça da Cidade Velha, encontra-se o relógio astronômico da Câmara Municipal,
umas das jóias da cidade. Contudo, o mais representativo de Praga são suas
casas, seus edifícios barrocos e góticos, fachadas mostrando a riqueza de
antigas famílias nobres e mercadores. Entre elas, a casa onde morou o escritor
Franz Kafka. Pelas ruas da cidade também passeou outra célebre personagem,
Wolfang Amadeus Mozart, um dos maiores
músicos da humanidade.
Encantei-me
com a deslumbrante cidade, a beleza singela das folhas mortas levadas ao vento,
caindo ao chão, nesse frio outono de Praga.
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