O PERDÃO A PAPAI NOEL
Ronald
Mendonça
Até os meus netos, Caio e Maria Clara, nascerem tinha dúvidas sobre a existência de Papai Noel. Na
infância, eu tinha quase certeza de que ele não
existia. Ele nunca nos visitou. Acho que os meus pais não iluminavam direito o
velho coqueiro, daí, PN, certamente, concluía
que não morava ninguém naquela casa.
Nas
noites de Natal, esperei
surpreender o Bom Velhinho. Nada. Joguei
a toalha. Achava que ele fazia forfait porque nós éramos muito danados. Fazíamos coisas feias,
como, por exemplo, roubar frutas nos sítios do seu Saraiva. E mais outras
coisas das quais não quero falar.
Casei, tive filhos... Na minha casa Noel nunca foi levado a sério. Muitas vezes fiquei matutando se ele não se sentia desnecessário. Nadja, minha esposa, comprava os presentes das crianças e do resto da família. Quem sabe, esse fato deixaria PN magoado...
Como queria dizer, quando os netos chegaram, voltei a ler histórias que eu havia esquecido. Li coisas que eu jamais havia aprendido. Assisti filminhos... Algumas histórias mais modernas.... Chapeuzinho Vermelho, não. Era minha velha conhecida dos tempos dos filhos. Tive que readaptar as vozes do Lobo e do Caçador. Com a idade, o timbre abaritonado ajudou...
Eu me superei imitando a voz do tubarão Bruce, aquele do Procurando Nemo.
Como
sinto saudades da tenra infância dos meus netos. É com imensa tristeza que eu
penso que eles não mais irão pedir para eu dizer: "Aloooô! O que este
casal de peixinhos está fazendo uma hora dessas por aqui?" Debrucei-me nos dinossauros. Contudo, meus conhecimentos
eram rasteiros, primários, quando comparados aos do Caio...
Aonde quero chegar? Em 2008, fomos a Gramado, para o Natal Luz. Conseguimos as noites de Natal e vizinhas. Emocionante. Guardei fotos dos meus netos conversando com o "verdadeiro" Papai Noel. São de uma carga afetiva inenarrável. Caio e Maria Clara, finalmente, estavam diante do mito.
Diálogos
inesquecíveis. Caio, mais velho dois anos, mais ligado, entendeu que as renas
de isopor do grande desfile alegórico estariam "encantadas". Num dado momento, arguiria: "Papai Noel,
você existe mesmo?" A resposta foi encantadora: "Eu existo na mente e
no coração das pessoas". E ensinou: "Jamais deixem de imaginar na
minha existência".
E foi assim que nunca mais eu duvidei da
existência desse camarada. Ele me frustrou muito, é fato. Mas agora eu o
perdoei.
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