A Festa Literária Internacional de Paraty encerrou a 13ª edição neste domingo (5) com diversos momentos marcantes, mesmo perdendo sua atração mais esperada pouco antes do início e com a cidade com menos turistas do que em outros anos.
O cancelamento da ida de Roberto Saviano deixou a Flip sem uma grande estrela internacional dos livros, mas a maior parte dos debates conseguiu empolgar o público.
Não foi uma edição tão política quanto a de 2013, que adaptou sua programação ao momento de protestos pelo país. Mas neste ano, nas vezes em que o tema foi evocado, a efervescência no público era perceptível.
O erotismo também esteve presente em diversos momentos desta Flip. Foi destaque também o interesse pelas mesas de ciência: em 2015, o cérebro e a matemática foram temas que atraíram uma grande multidão à tenda da festa.
Confira abaixo dez momentos marcantes da Flip em dez palavras:
Ele não veio. Mas esteve presente. Roberto Saviano, jurado de morte pela Máfia italiana, cancelou sua participação alegando questões de segurança. Mas emocionou o público com um vídeo de pouco mais de 11 minutos bastante contundente em que abordou sua condição de constante ameaça e atacou as conexões que possibilitam à indústria do narcotráfico uma condição cada vez mais forte. Leia mais.
O ator Pascoal da Conceição, que interpretou Mário de Andrade na minissérie da Globo "Um só coração" (2004), em peças e performances, resolveu voltar ao papel na conferência de abertura e invadiu o palco da Flip 2015. Nada combinado. Ele andou pela plateia, segurando um buquê de flores e caracterizado como Mário de Andrade, e declamou um poema. Ao G1, falou: "Eu sinto, como ator, quase uma obrigação artística de estar presente". Disse ainda que arcou sozinho com os custos da iniciativa, inclusive com os R$ 1,8 mil do terno. Leia mais.
O escritor Reinaldo Moraes "psicografou" Machado de Assis, acrescentou sexo – oral, inclusive – em "Memórias póstumas de Brás Cubas" e arrancou muitas risadas (e aplausos) do público da Flip. Em mesa sobre literatura erótica, ele leu em voz alta dois textos, feitos especialmente para o evento, em que crivou cenas pornográficas envolvendo os protagonistas do clássico de Machado. Fã de um trocadilho (nem sempre sofisticado), Reinaldo dividiu a mesa com Eliane Robert Moraes, especialista em Sade. Foi o encontro mais debochado do evento. E algum recorde de termos de duplo sentido mencionados por segundo deve ter sido quebrado. Leia mais.
Foi arrebatadora a conferência de encerramento da Flip 2015, ministrada pelo professor, ensaísta e músico José Miguel Wisnik. Na "aula", ele juntou Mário de Andrade e política emocionando a plateia. Foi aplaudido de pé ao dizer que o Brasil não trata a cultura e educação como se fosse "um luxo [acessível] para todos" e "faz de tudo para jogar a juventude pobre e negra no esgoto das prisões". Também cantou, comovido, o poema “Garoa do meu São Paulo”, do próprio Mário de Andrade, homenageado do evento: “Garoa do meu São Paulo / Timbre triste de martírios / Um negro vem vindo, é branco / Só bem perto fica negro / Passa e torna a ficar branco”. Terminou com voz embargada o último verso: “Garoa sai dos meus olhos”. Leia mais.
Muso da Flip 2015, o matemático russo Edward Frenkel mostrou no telão da Tenda dos Autores o trailer de um curta de 2010 estrelado por ele. Nas imagens, Frenkel, que falava sobre o lado artístico da matemática, aparece pelado (de costas) e trocando carícias com uma mulher com jeito de gueixa. Durante o papo, o mediador da mesa, Bernardo Esteves, lembrava de uma conversa prévia em que havia perguntado a Artur Ávila, o outro integrante do debate se ele já conhecia o colega estrangeiro. "Não, mas eu conheço a bunda", respondeu o brasileiro. Leia mais.
Foi mesa pra cardíaco: teve troca de provocações, divergências, polêmica musical e risinhos irônicos. Mas tudo na maior civilidade e com humor (nem sempre voluntário) – a plateia aplaudiu bastante e gargalhou. De um lado, o pesquisador José Ramos Tinhorão, 87, que acha Tom Jobim um coitado, que “a bossa nova tem ritmo de goteira e é puro jazz pasteurizado” e que a música popular brasileira sempre fracassou no exterior. Do outro, o compositor, escritor e poeta Hermínio Bello de Carvalho, 80, que acha Jobim “um grande compositor” e que a MPB deu certo e tem respeito lá fora, sim. Leia mais.
Parecia uma jovem carioca falando. Até que, antes de declamar o primeiro poema da apresentação, ela avisou: “Vou ler com o sotaque original”. E aí, pebolim virou algo como “pévolim”, e baleia saiu “baléia”. Era a poeta Matilde Campilho recitando seus versos com a pronúncia de nascença. Foi muito bem recebida: pelos versos de imagens fortes e metáforas e, claro, pela entonação lusitana. Teve gente na plateia que chorou. Leia mais.
A escravidão e o racismo como "linha de permanência" no Brasil, além da corrupção e os sentidos que o povo brasileiro deu à palavra "liberdade" ao longo de cinco séculos, foram os temas abordados pelas historiadoras Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling. "Não existem bons racismos, todos são perversos, e o nosso é dissimulado", observou Lilia. Leia mais.
Teve cantoria generalizada, no palco e no público. Arnaldo Antunes e Karina Buhr recitaram poemas com trechos cantados à capela e foram aplaudidos de pé na mesa “Desperdiçando verso”. Todos repetiram um poema-mantra, ou poema-jingle, nas palavras de Arnaldo. O verso era "agora aqui ninguém precisa de si", título do livro que o cantor, compositor e poeta acaba de lançar. Ele havia inventado uma melodia inspirada em cantos indianos e colocou na trilha de um vídeo de divulgação da obra. Cantaram ele e a plateia. Leia mais.
O economista e filósofo Eduardo Giannetti da Fonseca e o neurocientista Sidarta Ribeiro arrancaram aplausos entusiasmados do público em uma mesa sobre o cérebro, talvez a área do corpo com mais mistérios a desbravar, e a respeito da condição humana. Afinal, se estudos comprovam que o cérebro "se prepara" para uma decisão que será conscientemente tomada por você milisegundos depois, existe livre arbítrio? Foram questões antigas, em novos contextos, que Gianetti e Sidarta esgrimiram em cerca de uma hora e meia de conversa. Leia mais.
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