Preocupados com a situação do Complexo da Maré (zona norte do Rio), conjunto de favelas ocupado pelo Exército há pouco mais de um ano, oficiais defendem, nos bastidores, a retirada das tropas da região o quanto antes.
No Comando da Força, em Brasília, militares deixam claro que preferem manter a presença no Haiti a ocupar favelas no Rio de Janeiro.
Um dos motivos do descontentamento dos militares é a limitação das ações na Maré.
Diferentemente do que aconteceu durante a ocupação no Alemão ou durante os dez anos no Haiti, o Exército não pode realizar buscas em residências nem ocupar imóveis que comprovadamente pertenciam a criminosos.
"O Exército não entrou porque quis. Entrou para cooperar com a pacificação daquela região, que é estratégica para o Rio. Só que ali nossas ações foram limitadas, tornando a ação muito mais difícil do que em outras ocasiões", afirmou o general Fernando Azevedo e Silva, comandante do CML (Comando Militar do Leste), que abrange Rio, Espírito Santo e Minas.
"A missão na Maré é muito mais complexa do que no Haiti. Aqui, há três facções com disputas internas", disse o general Azevedo e Silva.
Alex Ribeiro - 2.out.2014/Folhapress | ||
Soldados do Exército patrulham Complexo da Maré, conjunto de favelas na zona norte do Rio |
O acordo entre o governo federal e o do Rio levou a uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem) "amarrada", na opinião dos oficiais. Na Maré, os militares só podem patrulhar, realizar prisões em flagrantes ou revistas em carros.
No Alemão, os militares obtinham de juízes mandados de busca e apreensão com base em informações que chegavam ao comando da tropa, o que possibilitou vistorias em residências suspeitas de serem esconderijo de armas ou drogas.
As ações resultaram na apreensão de 38 armas, sendo 12 fuzis, além de 2.879 munições. Na Maré, isso só ocorreu quando havia inquérito das polícias Civil ou Federal.
"A decisão de limitar as ações da tropa tem comprometido a missão. Entorpecentes são vendidos e consumidos nas casas, menores aliciados atiram pedras na tropa e traficantes passaram a emboscar os militares do alto das lajes", afirma o coronel Fernando Montenegro, que coordenou equipes na ocupação do Alemão.
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