O DOCE MAR DAS ALAGOAS
ALBERTO ROSTAND LANVERLY
Membro das Academias Maceioense e Alagoana de Letras e do IHGAL
Ainda infante, tive a inesquecível oportunidade de conviver em plenitude com meus avós maternos. Lembro que um dia, sentado à sombra de um pé de tamarindo em companhia de meu avô, Chiquinho, perguntei-lhe qual o significado do nome da região onde habitava. Ele, com sua inesquecível sapiência, respondeu que logo no inicio, os portugueses a conheciam por desertão, consequência do clima quente e seco. Depois, esta denominação foi sendo entendida como “de sertão”, ficando posteriormente a palavra Sertão.
Tempos após, já como aluno do Colégio Marista, tive oportunidade de ler Graciliano Ramos, mais precisamente Vidas Secas, e nunca esqueci a saga da família nordestina que habitava àquela região árida. Uma passagem que ainda ricocheteia nas simbólicas prateleiras de minhas lembranças, retrata a mãe lambendo o focinho sujo de sangue da cadela Baleia, que havia matado um preá, único alimento disponível e Sinhá Vitória não podia desperdiçar nenhuma gota de seu sangue.
Sempre considerei que minha facilidade em compreender Vidas Secas seria como resultado da experiência obtida no Sertão de Caicó, convivendo com o resplendor da caatinga formada por palmas, xique-xique, Jurema, mandacaru e, aqui-acolá, um pé de umbu cajá... Os tempos passaram e tive oportunidade de conhecer inúmeras cidades sertanejas alagoanas... todas possuíam características similares...
Para minha surpresa dias atrás visitei Piranhas e encantei-me. Lá cheguei quando o Sol dava seus últimos suspiros preparando-se para dormir, enquanto a lua já refletia, nas aguas do Velho Chico, toda sua grandiosa beleza. Senti-me em uma daquelas pequenas e aconchegantes cidades europeias sempre preparadas para receber visitantes. Dezenas de pousadas, hotéis e restaurantes oferecendo variadíssimo cardápio. Naquela comunidade não notei sujeira no meio da rua, pedintes ou ambientes que ensejassem perigo. O povo é hospitaleiro, bem educado e o casario preservado.
O melhor, contudo, ainda estava vindo: Um passeio de barco pelas limpíssimas e calientes águas do Rio São Francisco. Por mais que se descreva, somente vendo para assimilar. Ali deparei-me com fiordes mais belos que os conhecidos na patagônia argentina ou chilena, na Dinamarca e Noruega. Exultei com cânions bem mais bonitos que aqueles por onde, tempos atrás, caminhei em Petra, na Jordânia. As águas do Rio Nilo nem de longe se comparam àquelas que formam o doce mar das Alagoas.
Recantos exuberantes há, merecendo serem visitados. O Restaurante ecológico do Castanho, localizado no lago do Xingó, entre os cânions do Talhado, é um ponto inesquecível, sendo, inclusive, a reserva particular de caatinga preservada da região, considerada a maior de todas. Ali, entre outros animais, encontramos o macaco martelo e a onça pintada. Tudo isto, sem falar na rota do cangaço, que leva à Gruta de Angicos, onde Lampião foi trucidado.
Piranhas é um oásis, no sertão nordestino, banhado pelas águas do São Francisco, Doce Mar das Alagoas, que merece ser visitado.
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