domingo, 28 de dezembro de 2014

DESEJOS DA POETA CARLA NOBRE


Que em 2015
Eu pare tudo para ler ou reler um poema de Cecília, minha musa
Que ele deixe sua língua no vão da minha blusa
Que eu estrague tudo porque não levo desaforo para casa
E minha mãe não queimou minha língua com mingau
Mas que eu não guarde mágoa
Que em 2015
essas pessoas falsas que me cercam
Finjam que não me viram na rua
E aquela verdadeira continue me dando a joia mais rara: sua amizade
Que eu leve muitos nãos pela cara e sofra
Que eu me decepcione
E chore noites a fio sozinha
Mas que tenha poemas bons e ruins
Escritos com meu lápis
Que os malditos conselhos
De ser boazinha, calminha
Não me sirvam de nada
E que eu continue erva daninha
Que em 2015
Eu consiga destronar sem culpa
Todas as princesas que cultivei
As donzelas pudicícias
Que eu deixe ele penetrar
Em todos os orifícios...
Que este ano que vem
Eu produza muitos feitiços
E quebre a plaqueta do felizes para sempre
Que eu ganhe muitos repentes
Que eu tenha muitos amores
Sem ultrapassar soleiras
Tudo se acabe como veio
Continuo solteira
Que em 2015
Eu beba até água
Em taças fuleiras
Compradas na esquina
Mas não me venha com graça
Tudo deve virar brinde
Que eu não perca esse olhar desafiador
De ave de rapina
Que eu prefira a medusa, minha deusa imortal
Que mesmo depois de morta, ainda mata com seu olhar,
Essa mulher não é normal
Que eu transforme Perseu e Poseidon em pedra
Mesmo presa em um escudo
Eu gosto mais da medusa que da branca de neve
Me vejo linda com minhas flechas
E meus cachos ao vento
Que em 2015
Eu não viva em paz
Afinal o mundo é de quem faz
Que o meu peito caído
Não seja drama para minha libido
Que eu pare o carro
Para ver o por do sol
Em qualquer dia do ano
E que a poesia
Esse alimento que me engorda
Seja o prato da minha mesa
E que cada dor que eu viva
Seja escrita por mim
Sempre com beleza
Pode vir 2015
Já tô adorando você e seu ineditismo

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