domingo, 7 de dezembro de 2014

CRÔNICA DE PALOMA AMADO

Meu bairro é uma cidade do interior!
Aconteceu há uma semana.
Como todo domingo, eu preguiçava na cama, assistindo aos jornais. Quando ia começar o meu favorito de todos, Fatos e Versões, comecei a ouvir o estouro de rojões. Domingo é dia de futebol, mas de manhã... Será que o Bahia está comemorando a derrota do Vitória pelo Flamengo ontem? Não, assim já era demais. De repente começa a música, tambores ritmados, cantoria, uma lindeza. Larguei a cama, larguei a Cristiana Lobo, e corri para a varanda da sala a tempo de ver passar o andor de São Roque, cercado de anjinhos e pastores, o povo fiel de branco, cantando.
Pensei, tenho que fotografar! Corri para um banho rápido, estilo "olha que vai faltar água para sempre", me vesti de branco e lá fui eu a pé para a Igreja de São Lázaro. Não tive dúvidas, apesar dos conselhos médicos de não caminhar ou fazer exercícios nestes dia. É pertinho, eu pensei, e tirei de letra o quilômetro bem medido, com direito a ladeirinha.
A missa já tinha começado, a igreja lotada, os anjinhos e pastores por trás do altar, o padre abençoava um bebezinho. Com um tico de nada de sotaque (alemão?) dizia para o irmão da criancinha:
-- Nasceu a irmãzinha. Lembra de você passando a mão na barriga de mainha?
Um moço começou a distribuir fitinhas de São Lázaro brancas, corri para pegar a minha.
Era tudo tão lindo, tudo tão baiano. Era uma gente humilde e vigorosa ao mesmo tempo, que me rodeava. Uma emoção enorme me invadiu. Olhei São Roque no andor, cercado de flores, distribuindo saúde.
-- São Roque, meu bem, obrigada! -- São Lázaro, seu lindo, todas as rezas são poucas para agradecer me sentir tão bem! Grata por me trazerem à vossa igreja hoje!
Eu, que vim fotografar, comunguei, o que não fazia há anos. Me senti ótima!
Banho de pipoca, abraços na paz de Deus em meus vizinhos da Federação, troca de sorrisos, palavras cordiais e amigas, de quem acabava de conhecer. Fui sozinha e me encontrei muto bem acompanhada pelos meus iguais, o povo baiano.
Dos ritos, passei por todos, menos o final: A cervejinha no Largo! O pessoal estava animado, os copos brilhando, suados da geladinha, e o sol se fazia sentir para valer.
Para mim, que sou a cara de minha mãe, o anonimato é impossível... Assim que algumas pessoas vieram falar comigo, entre elas Giovanna, 9 anos de lindeza e vivacidade. Boa leitora, me disse conhecer tudo sobre papai. Trocamos número de celular para papearmos por What's up. Fui convidada para almoçar em sua casa, já confirmei presença, é só marcar. Levarei meu neto Lipe, que está virando um baianinho de primeira.
Começava meu caminho de volta, quando um carro que passava parou, a moça, pela janela, me parabenizou pela casa do Rio Vermelho. Nesse momento eu falava com minha amiga pelo celular, contava dessa manhã fabulosa. Interrompi...
-- Te ligo já, vou pegar uma carona...
Desliguei. Agradeci à moça do carro e pedi se podiam me deixar mais adiante um pouco. Emília, esse seu nome, e o marido me deixaram na porta de minha casa. Economizei meu quilômetro de caminhada proibida e ainda ganhei um papo muito agradável. Mais uma de São Roque protegendo sua filha.
No meu bairro da Federação, neste trecho conhecido por São Lázaro, reencontro minha Bahia da juventude, provinciana, quase uma cidadezinha do interior. Não vou sair daqui é nunca!
Bom domingo a todos!
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