sábado, 1 de novembro de 2014

UM TEXTO DE ALBERTO ROSTAND

RAZÃO E EMOÇÃO: ALMAS GÊMEAS

Alberto Rostand Lanverly
Membro das Academias Maceioense e Alagoana de Letras e do IHGAL
                
Durante as mais variadas etapas da existência, os seres humanos vivenciam notável duelo entre a razão e aemoção, quanto ao gerenciamento de seus atos. Os estudiosos do assunto mostram que, enquanto a emoção nos faz agir por impulso, a razão leva não somente a pensar no porvir, como nas consequências que surgirão quando da tomada de uma decisão.
         Engenheiro de profissão e professor por vocação, em sala de aula, lecionando disciplinas baseadas na rigidez das ciências exatas, sempre busquei apresentar para meus alunos exemplos do cotidiano, onde a frieza dos números era fortemente amenizada pelo sentimento característico dos racionais.
         Paralelamente às atividades profissionais, adotei o esporte como complemento para uma vida saudável. As variadas práticas coletivas da  juventude foram, nas últimas décadas, definitivamente trocadas pelas individuais. Alongamentos em sessões de pilates, fortalecimento muscular em academias de ginástica e corrida de rua, são práticas nas quais consigo ombrear a realização com a alegria.
         Dias atrás, conclui mais um imenso desafio em minha vida, fato que somente ocorreu pelo fato de saber, de forma cirúrgica, a cada instante do episodio, utilizar as gigantescas forças, tanto da emoção como da razão, elementos complementados como verdadeiras almas gêmeas, que verdadeiramente o são.
         Era domingo. O primeiro dia do horário de Verão de 2014. Mais de trinta mil pessoas se aglomeravam no Parque do Ibirapuera, em São Paulo esperando a largada de uma extensa maratona, para alguns medindo pouco mais de quarenta e dois quilômetros, mas, para mim e outras dezenas de milhares, somente de vinte cinco quilômetros. A temperatura era uma situação atípica para a “terra da garoa”. Os termômetros, já às sete da manhã, registravam trinta e três graus centigrados.
         Apesar de calejado na arte de correr, desde a inscrição, eu optara pela emoção de viver aquela festa e de, ao concluir aquele sonho, deixar como legado a meus descendentes a certeza de que um dia fora um corredor obstinado.
         Nos primeiros dez quilômetros, tudo transcorreu dentro do esperado. Contudo, enquanto os ponteiros do relógio evoluíam, era como se o sol  centralizasse seus raios justo sobre minha cabeça. Quando atingi vinte mil metros, o asfalto parecia ferver, o bico de meu peito sangrava (devido ao atrito com a camiseta) e pessoas a meu lado desmaiavam. Foi quando comecei a me questionar: o que estou fazendo aqui? Naquele instante a razão me segurou pela mão, trazendo a reboque a emoção, que parecera fraquejar, dando-me forças para pisar no chão olhando para o astro rei como se fosse a lua. Foi assim, somente assim, que conclui aquela grande empreitada de minha vida.
         A cada momento que relembro o episódio, mais me conscientizo de  sermos, ao mesmo tempo, o somatório da razão com a emoção. Só conseguimos realizar algo quando possuímos força para sonhar e entender que, de alguma forma, precisamos sofrer para atingirmos nossos objetivos.

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