terça-feira, 7 de outubro de 2014

UM TEXTO DE SEBASTIÃO NERY

Sebastião Nery

A JIRIPOCA PIOU 

Ele entrou em minha casa no Rio, no fim de agosto, com os jornais na mão e o sorriso iluminado de sempre:

– Meu pai, você esta enganado. Quem vai para o segundo turno com a Dilma é o Aécio, não é a Marina. 60% do País querem o PT fora do governo e vão votar para tirar. Não vão usar a Marina que também tem cara de PT. Quem é oposição de verdade ao PT é o Aécio. Esses 60% têm mais a cara do Aécio do que da Marina. Usando o direito de não votar que seus 82 anos lhe dão, você está arrumando as malas para 2 meses na Europa. Não estará aqui na eleição. Mas você vai ver. Quem vai para o segundo turno com a Dilma é o Aécio. E aí a jiripoca vai piar.

Eu não sabia o que era jiripoca. Fui ao Google de madrugada:

– “É um peixe de água-doce. É escuro, com manchas amareladas. Mede até 45 centímetros. Costuma nadar na superfície da água e emitir um som semelhante ao pio de um pássaro, o que fez surgir a expressão popular “hoje a jiripoca vai piar”, no sentido de “hoje vai ser para valer”.

E foi mesmo para valer. A jiripoca piou e Aécio disparou para o segundo turno, saltando nos últimos dias de 20% para 35%. Somando 35% de Aécio com 20% de Marina, a jiripoca piará para valer em 55%.

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PESQUISAS

Cada país é as instituições que tem, públicas, particulares, políticas, culturais, religiosas. Quando se desmoralizam carregam o país junto. Os institutos de pesquisa estão aí há quase um século acertando, errando, às vezes mais, às vezes menos, dentro do limite humano.

O que aconteceu com as pesquisas nesta eleição foi muito mais do que uma soma de erros. Foi uma mafiosa, sórdida negociação oficial que levou a números absolutamente inexplicáveis e inaceitáveis. Como é que Aécio não saía dos 20%, saltou para 25% e no dia seguinte já chegava a 35%? Expliquem, senhores! Seguraram-no meses com dados falsos.

O mínimo que se deve esperar de institutos históricos como o Ibope e o Datafolha é que preservem sua história e lavem seu rosto. É suspeitoso que eles não saíssem dos jornais e das televisões para fazerem o jogo sujo e certamente pago em milhões do palácio do Planalto e dos financiadores do PT. Agora, estão aí vilipendiados pelo País inteiro. 

Lembro-me do gordinho do Datafolha rodopiando como um pião doido no Roda Viva, falando uma hora e meia sem parar para sugerir e tentar convencer que Dilma seria eleita no primeiro turno. O Ibope é velho saltimbanco da verdade. Solta números como pipa em favela.

IMPRENSA

A imprensa francesa deu um fora esnobando à presença de Aécio Neves nas eleições brasileiras. Logo ele, o fenômeno da última virada.

1 – Sábado, Le Figaro, o maior jornal daqui (um Globão) deu uma página inteira: “No Brasil, o suspense até o fim”. Numa foto grande, Dilma e Marina sobre os subtítulos: “Dilma Rousseff, Dama dos Combates” e “Marina Silva, a Surpresa do Nordeste”.

2 – Le Monde, o segundo maior jornal, veio de primeira página. Uma foto grande também da Dilma e da Marina numa manchete de ponta a ponta: “Brasil, um Primeiro Turno Incerto”. E a segunda página toda dedicada ao Brasil: – “No Brasil, o Nordeste Vota Ainda com Dilma Rousseff – a presidente que continua na cabeça das pesquisas”.

3 – As revistas seguem o mesmo tom. A L’Express, a maior revista francesa (a Veja local), abriu várias páginas com uma foto derramada de Marina toda sorridente e a manchete de ponta a ponta: “A Amazonense nas Portas de Brasília”. E mais duas fotos, uma debatendo com Dilma e outra caminhando entre os seringais da Amazônia.

4 – A Le Nouvel Observateur, segunda mais importante revista, não fez por menos: foto de página inteira de Marina caminhando na Rocinha e o título “A Guerreira da Amazônia”. E outras fotos com Dilma e Lula: “Marina pode tornar-se a primeira presidente mestiça do País”.

Isso era conversa de sábado. Domingo falou o povo. E a jiripoca.

DICIONÁRIO

Mineiro como Dilma e filósofo como meus saudosos mestres das faculdades de Filosofia e Direito de Minas, o economista Eduardo Giannetti escreveu no dia 3 de outubro, na Folha de S. Paulo, um artigo lancinante (“Regressão”) sobre o governo e a campanha de Dilma.

Não transcreverei nenhuma frase. Apenas adjetivos, todos eles incrustados no texto: “sórdida, grotesca, disparatadas, bizarra, cavalares, vil, espúrias, feroz, despudorada, selvagem, mentirosa, farsante, infame”.

Esses adjetivos estão colados a substantivos e verbos que compõem o quadro pintado pelo professor Giannetti sobre o governo Dilma. Haja paciência para um país aguentar tanta humilhação. 

EDUARDO CAMPOS

Que lição maravilhosa deu ao País essa formidável família do querido Eduardo Campos, honrando seus compromissos e mantendo de pé a sua bandeira de servir a Pernambuco e ao Brasil.

O povo pernambucano respondeu à altura com a indispensável e retumbante vitória de Paulo Câmara e Fernando Coelho.

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