sábado, 4 de outubro de 2014

UM TEXTO DE MARCOS DAVI

AS NOVAS GERAÇÕES E O VOTO
Por: » MARCOS DAVI MELO - médico e membro da AAL.
O primeiro foi o Marcos Virgílio, nasceu sem um único cabelo, branquinho como a mãe e carequinha permaneceu longo tempo. Regurgitava o leite, fosse materno ou enlatado, de tal forma, que, com as neuroses de médico, cheguei a pedir ao colega pediatra que investigasse se o regurgitador mirim não tinha alguma agenesia de esôfago.

Certa feita, a mãe, professora da Ufal, precisou viajar para um congresso e fiquei encarregado de preparar o gogó. Dei uma caprichada e preparei uma supermamadeira. Morávamos em uma casa na Rua José Lages, onde as muriçocas famintas faziam a festa, ávidas por cada gota de sangue, de forma que dei a bomba no berço. Mas o jato de vômito, veio tão violento que inviabilizou o mosquiteiro.

O segundo, Marcel Davi, veio moreno, como o pai, mas também como o irmão, um emérito vomitador, tanto que meu pai vivia pra cima e pra baixo atrás de leite de cabra, pra ver se ele vomitava menos. Cresceram magrelos como se fossem refugiados de Biafra, e quando não estavam na escola, queriam jogar bola o tempo todo. Pra que não sucumbissem de inanição, tentava alimentá-los forçadamente: certa época, precisei trancá-los na cozinha e obrigá-los a tomar uma supersopa, o que era acompanhado de súplicas e lamentos, lembrando Auschwitz. 

A terceira e a única filha, Milena. Tudo diferente, a não ser a tendência à regurgitação e ao vômito, tanto que nas viagens de carro que fazíamos, sempre levava uma grossa toalha protegendo meu cangote, pois com pouco tempo na estrada, os jatos de vômitos coletivos, inapelavelmente, me golpeavam nessa desprotegida região.

Inteligente e estudiosa, passou nos dois vestibulares de Medicina de Alagoas em primeiro lugar, o que na época foi um feito e tanto, pois há anos um alagoano não conseguia tal resultado em nenhuma das duas. Quando via os posteres dos cursinhos divulgando esse feito, sentia-me recompensado. A vida me sorria lá de cima.

É a única que ainda não me deu um neto, ainda não teve tempo, nem há pressa; estudou muito, formou-se, especializou-se e agora inicia nova vida com o Léo. É pensando neles e nas novas gerações – não existe nada mais gratificante para um pai e avô, do que vê-los ganhar a vida trabalhando dura e honestamente, e sobrevivendo com dignidade – que vou votar nesse domingo. Esperando que consigamos deixar para eles um País melhor e mais justo.

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