sábado, 4 de outubro de 2014

TEXTO DE NADO TORRES A SER PUBLICADO NA PRÓXIMA EDIÇÃO DA FOLHA DA BARRA - FURO DESSE BLOG

– Nado Torres – Folha da Barra



Masoquismo incompreensível até para Freud


Não haverá democracia de fato no Brasil se perdurar a indecente concentração dos meios de comunicação. Neste livre país, seis famílias controlam 70% da imprensa. "Quando falamos em liberdade de expressão, temos de incluir a liberdade de distribuição”, disse o fundador do Wikileaks, Julian Assange. Esse grupo fechado de famílias são donos dos maiores jornais e revistas, das rádios, das principais TVs e agora dos mais acessados portais na internet e de uma grande fatia na TV por assinatura.
Quando o então presidente Lula imaginou criar uma Lei dos meios, como a Argentina o fez recentemente, os magnatas da comunicação, via seus cães de guarda (os colunistas), chamaram o presidente de autoritário, de antidemocrático. Mas como são incoerentes e cínicos. Eles escondem que nos Estados Unidos a lei proíbe, desde 1930, a propriedade cruzada. Um exemplo do que seja isso: o grupo New York Times, que publica o tradicional diário, não pode em hipótese alguma ser dono de TV. Tal proibição não faz dos States um país ditatorial! Mas aqui o grupo Globo – só para dar um exemplo – é dono de jornais (os dois maiores do Rio), revistas, rádios, TV, portais de internet, TV por assinatura...
Entre tantas, uma das consequências desse monopólio é, além da propagação e estabelecimento de um pensamento único, a morte lenta e asfixiante dos pequenos veículos – os teimosos que penam para subsistir. Praticamente toda a verba publicitária concentra-se na grande imprensa. Dez veículos recebem 70% da dinheirama. Segundo informações da revista Carta Capital (acusada de ser chapa-branca sem fazer parte dos dez), do início de seu governo até meados de 2012, Dilma liberou R$ 161 milhões para a mídia. Só a TV Globo faturou R$ 50 milhões; a Editora Abril, que publica a famigerada Veja, recebeu R$ 1,3 milhão.
Os governos federal, estadual e municipal agem como mulher de malandro: dão dinheiro a quem os espanca. É inegável que os governos tenham seus erros, mas eles são diária e didaticamente massacrados pela imprensa, a qual, negligentemente e de má fé, escondem os acertos. É um masoquismo incompreensível até para Freud: o governo Dilma paga a Veja para que a revista publique informações sem provas contra ele. A mulher de malandro apanha e apanha e ainda beija a mão de quem a espanca.
O estranho deleite desses governos impede ver que a imprensa chamada nanica é o contraponto a essa avalanche de inverdades diárias. Bem que poderiam ser mais justo na distribuição de verba – o que seria bom para a informação democrática, como quis dizer Julian Assange, lá em cima. Dividir o bolo com equidade fortaleceria a pequena mídia, que daria condições para o público ouvir o outro lado e formar sua opinião baseada na multiplicidade de ideias. Com uma ideia só– a da Globo e a da Veja, por exemplo – não há democracia de fato.

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