sábado, 30 de agosto de 2014

UM TEXTO DE RONALD MENDONÇA

DE VOLTA AO MAR DE LAMA
RONALD MENDONÇA
MÉDICO E MEMBRO DA AAL



O amor dos comunistas a Getúlio Vargas poderá ser compreendido a partir da Síndrome de Estocolmo. Segundo a doutrina que tenta explicar a “Sindrome” (paixão que o humilhado desenvolve pelo opressor) seria um mecanismo psicológico complicadíssimo que envolveria temor, submissão e, finalmente, identificação/empatia com o elemento agressor.
Todos sabem que foi durante a ditadura Vargas que pessoas do quilate de Graciliano Ramos, Sebastião da Hora, dentre outros, sofreram irreconciliáveis humilhações com encarceramentos, torturas psicológicas e outros que tais. A outros cidadãos, mesmo estrangeiros, o aparato policial-repressivo liderado por Filinto Muller, foi reservado tratamento brutal somente repetido nas mais ferozes ditaduras. Inclusive na ditadura militar que se instalou no Brasil a partir de 1964.
Muller tinha uma diferença pessoal com Carlos Prestes, o grande líder comunista da época. Estranhavam-se. Trocavam farpas que variavam de roubo a homossexualismo. Quer parecer ingênuo afirmar que Vargas ignorava o que se passava nos porões de sua ditadura. O “Pai dos Pobres” e a “Mãe dos Ricos” era combatido pelas esquerdas e pelos movimentos de direita. Mesmo assim ficou no poder 15 anos.
Carlos Prestes encenaria um episódio de beija-mão público com Getúlio Vargas que as pessoas normais têm dificuldades de entender. Sobretudo, depois de escorraçado e de ter sua companheira, a judia-alemã Olga Benário, entregue de bandeja aos nazistas de Hitler. Olga estava grávida, supostamente do próprio Prestes, o que torna o ato mais abominável. Benário era uma terrorista caçada pelos alemães. Vargas flertava com Hitler. Aliás, outros líderes também flertavam com o bigodinho alemão, inclusive o bigodudo ditador russo Stalin.
Diferentemente de Dilma Rousseff, que não pode ir a lugar nenhuma que recebe vaias (“da elite branca”), Getúlio Dornelles Vargas era amado. Tanto que, cinco anos após ser defenestrado, voltaria glorioso nos braços do povo. O “Velho”, como era carinhosamente tratado, era carismático. Em 24 de agosto de 1954, o gesto extremo do suicídio o purificaria de todos os excessos cometidos.
É querer torcer a história afirmar-se que quem matou Getúlio foi a UDN, Carlos Lacerda e outros “comparsas”. Com efeito, no mandato presidencial regularmente eleito, as vagabundagens governamentais eram denunciadas. O “Mar de Lama” que cercava o presidente era simbolizado por Gregório, seu guarda-costas, e pela família. O envolvimento do próprio filho cobriria o velho estancieiro de incoercível vergonha.

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