sábado, 30 de agosto de 2014

Heloísa Helena: "O que mais quero é estar com Marina" Por uma vaga no Senado, Heloísa Helena enfrenta Fernando Collor, que é apoiado por Dilma. Ela diz que pode deixar de lado compromissos partidários para apoiar a amiga do PSB. ÉPOCA

MURILO RAMOS


Heloísa Helena (Foto: Sérgio Amaral / Editora Globo)
Quando vai a Alagoas, Marina Silva (PSB) costuma hospedar-se na casa da vereadora Heloísa Helena (PSOL). Dorme no quarto do filho de Heloísa, que é sua amiga. “Somos irmãs de caminhada”, diz Heloísa. Ela é candidata a voltar ao Senado, de onde saiu em 2006 para tentar a Presidência da República. Seu principal adversário é o senador Fernando Collor (PTB), contra quem protestou nas ruas em 1992, como professora e militante do PT, na campanha pelo impeachment. Heloísa afirma que pode pedir votos para a amiga Marina, apesar de o PSOL ter uma candidata à Presidência,Luciana Genro. “O que eu mais quero é estar envolvida na candidatura de Marina”, diz. 
ÉPOCA – Como a senhora vê a candidatura de sua amiga Marina Silva à Presidência da República?
Heloísa Helena – 
O Brasil merece Marina como presidente da República. Ela é competente, estudiosa, disciplinada e firme. As pessoas duvidam da firmeza dela. Eu não. Ela está comprometida com o Brasil. E Marina merece a oportunidade, principalmente depois de todas as tormentas que enfrentou. É profundamente triste que, para ser candidata, ela tenha tido de vivenciar uma tragédia tão dolorosa, a morte de Eduardo Campos. As pessoas achavam que a candidatura dela à Vice-Presidência tinha sido uma imposição de Eduardo Campos. Nada disso. Ela sempre deixou claro para mim que o lugar dela, na condição em que entrava na chapa, era vice. Ela sempre analisou os gestos de Eduardo Campos com generosidade.
ÉPOCA – A senhora vai pedir votos para Marina?
Heloísa Helena –
 Eu tenho de conversar com as pessoas do meu partido. Todos sabem quanto respeito a Luciana Genro (candidata à Presidência pelo PSOL), a mais importante representante da esquerda socialista, mas o que mais quero é estar envolvida com a candidatura de Marina.
ÉPOCA –  Mas formalmente Marina não pode apoiá-la. O partido dela, o PSB, está coligado com adversários da senhora.
Heloísa Helena – 
Se a lógica fosse essa, eu também não poderia ajudá-la. No sertão existe um ditado que é o seguinte: cada dia com sua agonia. Estou certa de que ela não apoiará meus adversários. Ela já queria ter vindo para Alagoas, só não veio porque a gente não tinha nem panfletos para distribuir. Estamos analisando isso com tranquilidade. Somos irmãs de caminhada.  
ÉPOCA – Como Marina, a senhora já se candidatou à Presidência da República, em 2006. Depois se afastou do cenário político nacional. O que a senhora fez desde então?
Heloísa Helena –
 Fiz a escolha de ficar em Alagoas. Não fui para Miami nem passear pelo mundo. Eu voltei à universidade para dar aula (no curso de enfermagem da Universidade Federal de Alagoas). Depois resolvi, com o meu partido (PSOL), ser candidata a vereadora em Maceió. Essa opção foi motivo de ridicularização por aqui. Mas para mim foi uma experiência importante, porque vivo o dia a dia da cidade, dirijo meu carro, faço trabalho voluntário com adolescentes, entre outras atividades.
ÉPOCA – Se o trabalho é tão gratificante, por que a senhora quer voltar ao Senado?
Heloísa Helena –
 Parece presunçoso dizer isso, mas na representação de Alagoas não há quem defenda o que defendo. Ninguém está lá para defender a educação de qualidade, a inclusão social, a eficácia e dinamização dos serviços de saúde, a geração de emprego e renda nas comunidades pobres, a segurança pública e o alongamento do perfil da dívida de Alagoas. Não estou nem falando da ética na política, porque considero isso uma virtude que deve ser inerente ao político. Acho uma tristeza quando não roubar os cofres públicos passa a ser um atributo. Política não é o que mais gosto de fazer. Mas estou na política para não permitir que o império do banditismo político e da imposição do medo me tenha como um de seus súditos.
ÉPOCA – Seu principal adversário é o senador Fernando Collor de Mello (PTB). Ele prevê gastar até R$ 5 milhões na campanha ante R$ 200 mil da senhora. Como lidar com isso?
Heloísa Helena – 
Estou lutando contra um aparato gigante. Collor tem centenas de candidatos a deputados poderosíssimos. Ele tem o palanque da presidente Dilma, do PMDB e a estrutura de prefeitos. Se analisarmos o mapa do domínio eleitoral de quem o apoia, você poderia dizer que é impossível eu vencer. É um Davi contra centenas de Golias e seus exércitos de mercenários armados até os dentes.
ÉPOCA – Diante desse cenário, quais são suas reais possibilidades?
Heloísa Helena – 
Tenho chances de ganhar a eleição se a maioria do povo alagoano se perguntar qual é a voz que quer: a representada pelo submundo da política e pelos perversos indicadores sociais, ou a voz de alguém que respeita a ética e a justiça social.
ÉPOCA – A senhora vai aceitar dinheiro de empresários em sua campanha?
Heloísa Helena –
 Não, embora alguns ofereçam por generosidade democrática. Para mim, é melhor não receber. Não que alguém fosse ter a ousadia de achar que poderia me comprar com dinheiro de campanha. É apenas por uma compreensão de me sentir mais à vontade para defender a justiça e não ter nenhuma vinculação financeira com nenhum setor. Contribuição de pessoa física é diferente. Eu aceito.
ÉPOCA – Collor recebeu depósitos do doleiro Alberto Youssef. A senhora vai tratar disso na eleição?
Heloísa Helena –
 Posso até tratar disso, mas uma pessoa que tem a história suja que ele tem, ainda conseguir pontuar positivamente numa pesquisa eleitoral... Não sei que efeito prático essa revelação dos depósitos do doleiro teria. Não vou antecipar o que vou trazer na campanha eleitoral, mas se alguém acha que vai me impor medo se engana profundamente. Se tiver baixaria e mexer com minha honra pessoal, pode vir fervendo que eu estou feito lava vulcânica. Ninguém brinque comigo. É melhor todo mundo ter cautela no debate.
ÉPOCA – A senhora se notabilizou em sua passagem anterior no Senado pelos discursos inflamados...
Heloísa Helena –
 Quem me conhece sabe que sou uma pessoa superzen. Gosto de coisas calmas. Se você vive o tempo inteiro agitado ou fazendo discursos inflamados, isso causa até lesões orgânicas. Mas a injustiça é algo que me constrange profundamente. Elevo a voz quando o argumento não convence, quando as regras não são cumpridas, quando os sentimentos mais nobres são jogados no lixo da política. Aí sim eu fico muito brava.
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Se mexer com minha honra,
pode vir fervendo que eu estou feito lava vulcânica"
HELOÍSA HELENA
ÉPOCA – A deputada estadual do Rio de Janeiro Janira Rocha, que é de seu partido (PSOL), foi acusada de corrupção. O que a senhora acha das acusações contra ela?
Heloísa Helena – 
Estou afastada de todas as instâncias partidárias há pelo menos seis anos. Vivi duas tormentas. A primeira foi minha luta contra o aborto; a segunda foi o meu apoio à tentativa de Marina registrar a Rede Sustentabilidade. Como não acompanhei inquérito nem processo administrativo sobre Janira, nem consegui acreditar. Janira sempre foi uma grande liderança de nosso movimento sindical e popular.
ÉPOCA – Em 2008, a senhora disse que processaria o ex-ministro José Dirceu por ele ter insinuado numa entrevista que a senhora tivera um caso com o ex-senador Luiz Estevão – e que, por isso, teria votado contra a cassação dele (em 2000). O que a senhora achou dos comentários de Dirceu?
Heloísa Helena –
 É a maior ofensa que uma mulher digna e honrada, como eu sou, poderia sofrer. Então, eu tinha duas opções: quebrar o septo nasal do indivíduo, que era minha maior vontade, ou processá-lo, como fiz com várias pessoas que insinuaram a mesma coisa. No caso do indivíduo que está preso, nem acompanho mais. Dirceu teve o destino carcerário que nem eu torci para que tivesse. Nem comemorei. Até porque era uma grande liderança da esquerda socialista, e depois se submeteu a se lambuzar no banquete farto do poder da forma mais indigna. Enfim, não tive um caso com Luiz Estevão. Não é o tipo de pessoa que escolheria para me relacionar emocionalmente. Por outros motivos, Dirceu já foi devidamente punido. Mas digo que não existe destino carcerário capaz de apagar a baixeza da calúnia que ele lançou contra mim.
ÉPOCA –  A senhora guarda mágoas do PT por ter sido expulsa em 2003?
Heloísa Helena –
 Não guardo rancor, porque foi a situação mais importante da minha vida. No PT, fui testada entre ter cargos, prestígio e poder e defender aquilo em que eu acreditava. No PT, tenho vários amigos queridos, cujos laços afetivos não foram desfeitos. E vou ter o voto deles. Alguns militantes do PT se submeterão à força do populismo partidário. Mas muitos petistas livres estão me ajudando.

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