AS ROTINAS DA VIDA
Alberto Rostand lanverly
Membro das Academias Maceioense e Alagoana de Letras e do IHGAL
Encontrava-me em uma fila de banco quando notei, um pouco atrás de mim, uma senhora falando muito. Em pouco menos de vinte minutos, já sabia mais de seu cotidiano que de muitas pessoas com quem convivo. De inicio, o som de sua voz pareceu-me desagradável. Contudo, mais atento a seus dizeres, admirei-a quando afirmou que “estava cansada de trabalhar, cruzando todos os dias com as mesmas pessoas e, ao chegar em casa, encontrando tudo do mesmo jeito, inclusive a mesma comida para o jantar”. Olhei para trás como se estivesse vendo o infinito formado pelo encontro das paredes, lá no final da sala e vislumbrei o rosto da queixosa que me pareceu uma figura pálida, pele de tom bege, um pântano em cada olho e uma boca que mais parecia o Vesúvio, a expelir larvas incandescentes.
Logo depois, cumprida minha tarefa bancária deixei o local, mas não esqueci a tagarela e imaginei como a rotina podia ser tão desagradável para algumas pessoas, chegando a crucificá-la por, teoricamente, ser a motivadora do desânimo diário de determinados seres viventes. Imediatamente coloquei-me no epicentro de uma situação idêntica e compreendi a importância e felicidade de repetir sempre as coisas boas da vida com criaturas com as quais compartilhamos o cotidiano que Deus nos deu.
Cinco horas da manhã, caminhada na praia ao lado de andarilhos com o mesmo objetivo, sempre acelerando o passo e deixando claro que o hábito nos faz acostumar, uns com a presença dos outros, gerando uma dependência natural por vivermos, constantemente, rodeados por elas. Nesta hora não somente esgotamos nossos risos e mentiras mas também recarregamos as baterias para uma nova jornada que se inicia.
Dentro deste imenso baú, onde as emoções se misturam, poderíamos resgatar até uma nova definição para o termo saudade, que, em linguagem poética é o alimento da alma nos impedindo de esquecer, mas que poderia também ser interpretada como sinônimo de repetição. Só sentimos falta daquilo a que nos acostumarmos. Que o digam, a ausência do sorriso de Ardel Jucá; das passadas cadenciadas, características de Anthony Leahy- um verdadeiro lorde; a corrida miúda de Carlos Gama; as gargalhadas amigas de Max Malta e Leonardo Leite. Eles são exemplos de andarilhos madrugadores cujos comportamentos repetitivos nunca serão esquecidos, porque, mesmo sem mais existirem materialmente, não tiram nem um pouco da beleza do céu ainda enfumaçado logo cedo, onde algumas estrelas teimam em permanecer acordadas, parecendo queimar, com a força dos raios provenientes do sol que chega, também, para cumprir seu ciclo sempre repetido.
Se rotina é ter medo do incerto, também pode ser interpretada como a repetitividade que magoa. Pensei, novamente, em minha companheira da fila do banco, que, alias, tinha outra característica inesquecível: possuía seios colossais, como os de um animal de estimação super alimentado, fazendo-me imaginar que o grande triunfo de sua vida, ocorreria, se ela desenvolvesse algum tipo de amor ao próximo.
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