sexta-feira, 2 de maio de 2014

UM TEXTO DO GENERAL RÔMULO BINI PEREIRA



A DITADURA DO SABER NAS ESCOLAS


              Ao final do mês de março último, em muitas reportagens veiculadas em jornais de todo o país, membros da Comissão Nacional da Verdade afirmaram que há imperiosa necessidade de serem reformulados os currículos das Escolas Militares, principalmente no que tange ao ensino da disciplina História do Brasil nos Colégios Militares. Considera a comissão que é "intolerável” que ainda haja motivos para enaltecimentos à Revolução de 31 de Março de 1964. De forma sutil, põem o Ministério da Educação na roda chamando-o à polêmica, em decorrência da responsabilidade deste órgão em relação aos currículos escolares que apresentem “falsas histórias”. A exposição argumentativa posta nos artigos agride os princípios democráticos constantes da nossa Constituição e permite, ainda, que fatos históricos fiquem à mercê de pareceres e análises de cunho ideológico/partidário.
Esses membros poderiam pesquisar em outras fontes e, na mesma intensidade, escrever a respeito de ensinos de teorias radicais de esquerda nas escolas pertencentes à rede pública. Aliás, é oportuno salientar a título de corroboração que, em algumas dessas escolas, já se canta a "Internacional Socialista", uma ode ao comunismo. Os recentes tumultos acontecidos no Rio de Janeiro, cujo ápice lamentável foi a morte de um cinegrafista, revelaram, pelo menos, dois aspectos significativos: um crescente radicalismo nos meios estudantis secundarista e universitário protagonizado pelo grupo Levante Popular da Juventude, e a aparição da ativista Sininho, que se vangloria ao dizer que nasceu numa família petista.
Será que o Ministério da Educação deve também, como sugerem tais comissões, atuar nesses estabelecimentos de ensino público ou a atuação vale somente para as Escolas Militares? Que opção seria melhor para a História do Brasil? “Vaporizar” dos currículos das Escolas Militares a Revolução de 31 de Março ou debater democraticamente o fato histórico?
Eis alguns tópicos para a segunda opção. O Sistema Colégio Militar do Brasil (SCMB), constituído de doze colégios, atualmente com 14.000 alunos matriculados, destaca-se pela excelência do seu ensino. Tais colégios herdaram de seus antecessores um legado que transcendeu gerações, principalmente em relação aos corpos docente e discente. Os resultados em exames divulgados nacionalmente comprovam a citada excelência, oriunda da solidez, profundidade e amplitude de seu ensino. Seus alunos se sobressaem muito bem em Olimpíadas Escolares e no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). O altíssimo índice (90%) de aprovação nas escolas de ensino superior é uma das mais convincentes provas da competência dos docentes, da dedicação dos alunos e da estrutura de ensino dos Colégios Militares. A moldura deste quadro de que o Exército muito se orgulha é o fato de muitos alunos dos Colégios Militares ingressarem em universidades de renome mundial, tais como Harvard, Yale, Princeton e Chicago.
É importante que nossa sociedade saiba que, ao fim do ensino médio, nenhum aluno é obrigado a seguir a carreira militar e que somente trinta por cento (30%) optam pelo prosseguimento. Nesse caso, ainda têm de transpor uma barreira difícil: um exame de âmbito nacional, junto com candidatos civis oriundos de outras escolas congêneres.
Os princípios e condutas que nós, os militares, continuamos a cultuar e cultivar, embora sejam tidos nestes tempos de permissividade como valores ultrapassados, evidenciam dois detalhes que não constam dos currículos e que são de capital importância para a formação de nossos jovens em todas as Escolas Militares. O primeiro é a educação pelo exemplo, cujos fulcros principais são a disciplina, o respeito ao professor, o culto à verdade, a observância de horários e planejamentos, a responsabilidade e a ausência de greves.
O segundo, muito específico, é o fato de a profissão militar conseguir criar dentro das Forças Armadas uma "grande família". Seus membros convivem diuturnamente, desde os bancos escolares até as várias guarnições de nosso país, unidos pela amizade, fraternidade e respeito. A experiência adquirida nos anos vividos nas Escolas Militares contribui muito para o fortalecimento desta convivência. Na era da informática este elo está comprovadamente revigorado.
Já faz muito tempo que recebemos em silêncio, uma carga enorme de notícias desfavoráveis e de inverdades a respeito do período dos governos militares. Entretanto, nossos familiares são as principais testemunhas dos nossos exemplos de sacrifício, de conduta honesta e de abnegação não somente para com a Instituição, mas, sobretudo, para com o Brasil. Sabem que nós fomos envolvidos em uma luta fratricida  — que não desejávamos e não iniciamos —  com o objetivo único de evitar a instalação de uma ditadura comunista ou de uma "democracia" que até hoje as esquerdas não conseguiram definir. Sabem, também, que lutamos, tivemos nossos mortos e não nos beneficiamos de execráveis indenizações ou abjetas benesses, cujo exemplo maior está na concessão das famigeradas "bolsas - ditadura". Sabem, ainda, que erros foram cometidos pelos dois lados e que só um deles é tido como vilão.
O segmento militar, com esta unidade de pensamento e com esta conduta, deixa surpreendidos e encabulados os intelectuais e ideólogos de esquerda. Em defesa desses louváveis resultados educacionais, não permitiremos que currículos escolares de nossas Escolas Militares sejam modificados unicamente para que caprichos ideológicos contrários à vocação democrática do nosso Exército sejam atendidos. Por isso, quando o assunto for currículos de Escolas Militares, seria muito bom que os entusiasmados membros da CNV não fossem além das sandálias.
Ao encerrar, como um passo à frente do que propõem as tais comissões e os ideólogos da esquerda, o governo poderia criar cargos de confiança para o acompanhamento e sanções que julguem necessários para as nossas Escolas Militares. Seriam similares aos cargos de “comissários políticos”, tão comuns em países que professam ou professaram ideologias autoritárias, como a Rússia, China, Cuba e Venezuela. É o caminho que parece ser o sonho daqueles que hoje nos governam: a ditadura do saber nas escolas!

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