DEPOIMENTO NA "COMISSÃO DA
VERDADE"
Embora eu esteja
mais preocupado com 2064, com o futuro, pois não vejo projeto de
desenvolvimento para o Brasil para os próximos 20 ou 50 anos, existem apenas projetos
eleitoreiros, projetos de tomar ou permanecer no poder, durante os últimos 50
anos ( 21 de ditadura e 29 de democracia), pouca coisa mudou em minha Alagoas, continuam os mesmos índices, apenas
25% da população sabem interpretar um texto ou seja, 75% analfabetos, oito
famílias detém 65% do PIB alagoano, cruel
concentração de renda, a corrupção foi banalizada pela impunidade.
Preocupa-me mais o futuro, contudo, convidado,
aceitei esclarecer em depoimento minha participação nos acontecimentos passados
do Golpe de 1964 na "Comissão da Verdade".
Foram quase 3
horas de depoimento, fiz um relato histórico abordando as causas do Golpe
Militar, resumo abaixo, dentro deste pequeno espaço. 1- Iniciei contando a participação de um obscuro
advogado em 1961, Francisco Julião, criador e incentivador das Ligas Camponesas, associações de
trabalhadores do campo, cujo objetivo maior era a reforma agrária. Por conta da
pregação de Julião, um articulista americano, escreveu um artigo no Washington
Post, "Estão cubanizando o Nordeste Brasileiro", o presidente dos
Estados Unidos, John Kennedy apavorado
com uma revolução no Nordeste, criou o programa Aliança para o Progresso em
Pernambuco, distribuição de leite e
outras pequenas carências à população. Vieram agentes da CIA infiltrados no
programa, foram fundamentais no incentivo e financiamento na derrubada do
Governo de João Goulart. No final de março de 1964 desceu ao Atlântico Sul uma
esquadra americana com armamentos poderosos para intervenção armada, se
preciso. Os navios eram vistos na cidade de Natal. A partir de 1964 os USA
fomentaram as ditaduras na América do Sul.
2- Historicamente
o Exército Brasileiro, depois da República, fez o papel do Poder Moderador,
inerente ao Imperador, intervenções políticas (golpe) em 1922, 1924, 1930, 1945,
1955, logo após devolvia o poder à sociedade civil. Foi uma mesma geração de
oficiais, os tenentes de 1922, 1924,
eram capitães em 1930, majores em 1945, coronéis em 1955 e generais em 1964.
Faziam parte dessa geração o General Góes Monteiro, Cordeiro de Farias, Juarez
Távora, Castello Branco, entre outros, os líderes de 1964. Nós capitães e
tenentes alijados na conspiração e de opinião, fomos apenas massa de manobra.
3 - A maioria dos
jornais fazia campanha sistemática contra o governo, a inflação chegava a 80%,
a Igreja, com o padre Peyton pregando a "Família que Reza Unida Permanece
Unida", liderou a Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Quase um
milhão de pessoas contra o comunismo, pedindo a deposição de Jango. A classe
média apoiou o golpe.
4- O presidente
João Goulart acendia uma vela a Deus outra ao Diabo, como disse Julião, pregando reformas radicais, em março de 64 houve a rebelião de marinheiros e
o comício pelas reformas em frente ao Ministério da Guerra.
5- No dia 31 de
março o General Mourão Filho inicia um movimento de tropa saindo de Minas
Gerais para depor o presidente. Nesse clima de tensão Jango sai de Brasília,
viaja a Porto Alegre. O senador Auro Moura de Andrade no dia 2 de
abril (dia verdadeiro do golpe) declara vago o cargo de Presidente da República, dá
posse ao Presidente da Câmara Ranieri Mazzilli.
Na semana seguinte, o Congresso Nacional elegeu presidente o
Marechal Humberto de Alencar Castello Branco com mandato até janeiro de 1966,
quando tomaria posse o presidente escolhido pelas urnas, em eleições previstas
para outubro de 1965. Não aconteceu. O mandato do presidente foi prorrogado, as
eleições livres de 1965 canceladas, e os militares só deixaram o poder 21 anos
depois.
6- Em 1964, eu era tenente,
servia no Recife, 2ª Cia de Guardas, tropa de elite do IV Exército, onde
ficaram destacados presos políticos, não vi algum tipo de tortura. Entretanto,
foi constado, provado, durante os 21 anos de regime militar aconteceram mortes
e torturas, em porões do DOI-CODI. Nos quartéis havia rotina militar normal.
Apenas alguns oficias do Exército se envolveram com a tortura, não se pode
generalizar. Abomino qualquer ditadura, tortura, atrocidades, terrorismo,
assassinato ou roubo justificados por idealismo.
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