sábado, 1 de fevereiro de 2014

UM TEXTO DE RONALD MENDONÇA

A MAIS MARAVILHOSA DAS MORTES




Essa semana, o escritor Carlito Lima fez a entrega da nona edição do Prêmio Espia. Peço licença para, em sua homenagem, transcrever esse texto extraído do O Amante de Lady Chatterley, de D.H. Lawrence, de 1927.

“Tiveram uma noite maravilhosa de paixão sensual; Constance, um  tanto amedrontada, mas ao mesmo tempo assustada, conheceu vibrações de sensualidade ainda mais fortes que das outras vezes. Vibrações diferentes, mais agudas, mais terríveis que as causadas pelo amor ternura e, no momento, mais desejáveis. Apesar de um pouco atemorizada, não se opôs a coisa nenhuma – e uma sensualidade sem freios e sem vergonha a sacudiu no mais fundo de si mesma, e a desfez dos últimos véus, revelando nela uma mulher nova. Não era propriamente amor. Não era volúpia. Era uma sensualidade aguda e ardente como o fogo que lhe transformava a alma em brasa”.

“E esse fogo destruía as mais velhas e profundas vergonhas das suas partes mais secretas. Custou-lhe certo esforço deixar que o amante usasse dela ao sabor de seus caprichos, reduzindo-a a simples coisa passiva, complacente como uma escrava – como uma escrava física. A paixão a devorava com chamas consumidoras e quando a violência dessas chamas alcançou o mais íntimo de suas entranhas, julgou estar morrendo – embora da mais maravilhosa das mortes”.

“Perguntava-se a si mesma que quereria significar Abelardo ao dizer que, durante o seu ano de amor com Heloísa, haviam passado por todos os estágios e por todos os requintes do amor. Agora compreendia. Era aquilo. Há mil anos antes! Já representada nos mais antigos vasos gregos. Os requintes da paixão, as extravagâncias da sensualidade! E era coisa necessária para destruir as falsas vergonhas e refinar em pureza o grosseiro minério do corpo”.

“Quanto não aprendeu nessa noite! Se lho contassem, teria admitido, seria coisa para matar uma mulher de vergonha – mas quem morreu foi a vergonha. A vergonha que não passa de medo; a profunda vergonha orgânica, o velho medo físico que se oculta nas raízes do corpo e que só pode ser expurgado por esse fogo sensual. Ao fogo da investida fálica do homem ela pôde alcançar o coração da floresta do seu ser”.

“Que mentirosos os poetas e toda a gente! Fazem-nos crer que só precisamos de sentimentos. Mas, na realidade, o que imperiosamente precisamos é dessa penetrante, ardentíssima e terrível sensualidade”.

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