quarta-feira, 27 de novembro de 2013

JB NA HISTÓRIA

27 de novembro de 1983: Teotônio Vilela morre ouvindo pássaro cantar

A morte de Teotônio Vilela. Jornal do Brasil: Segunda-feira, 28 de novembro de 1983

As janelas do quarto estavam abertas e o canário que pertenceu à sua mulher, Helena, novamente cantava. Foi neste cenário que morreu no fim da tarde o ex-Senador Teotônio Vilela, 67 anos, de câncer, após três dias de inconsciência. A vontade de morrer em Maceió, pedido feito à família, foi cumprida.

O pregador das liberdades
De vaqueiro a liberal, assim foi a trajetória de Teotônio Vilela. Filho de usineiro, dono de boiada, deputado pela antiga UDN e boêmio até quando a cirrose permitiu, Teotônio, depois de ter apoiado o Golpe de 1964, deu dignidade à dissidência, ao transformar-se na voz solitária que, na extinta Arena, pregava a volta à democracia. A partir daí, abriu caminho para a Oposição, que o recebeu como senador e o fez vice-presidente nacional do PMDB. Por vontade paterna, ele, que era um dois oito filhos do usineiro alagoano Elias Vilela, teria sido militar. Depois de cursar o Colégio Nóbrega, em Recife, foi despachado do engenho da família, em Viçosa, para o Colégio Militar do Rio. Desligado de lá, por responder a um tenente, que o advertia por estar usando um chapéu de jornal na formatura da companhia, Teotônio, que provava o gosto da boemia carioca, voltou para Viçosa. Comprou uma boiada e se descobriu. Acompanhou vaqueiros nas feiras de Sergipe e Bahia, passou noites em conversas ao redor da fogueira e lançou-se com todo vigor na peleja das vaquejadas.
Teotônio Vilela, por Chico Caruso. Reprodução




Casado com Dona Helena - que faleceu quase dois anos antes de sua morte - teve sete filhos: José Aprígio, Teotônio Filho, Elias, Rosana, Helena, Fernanda e Janice. A admiração por Carlos Lacerda e pelo Brigadeiro Eduardo Gomes o levou para a UDN, pelas mãos do sogro, Quintela Cavalcanti. Lacera não entendia como um vaqueiro pudesse demonstrar intimidade tão grande com os clássicos. Desconhecia que Teotônio era um devorador dos autores ingleses e alemães, que abarrotavam a biblioteca herdada do sogro.



A carreira parlamentar começoue em 1954, com a eleição para a Assembléia Legislativa alagoana. Vice-Governador de Luis Cavalcanti em 1962, Chegaria a Brasília quatro anos depois, ao derrotar Silvestre Péricles na disputa pelo Senado. Signatário do documento de parlamentares da Arena ao Presidente Costa e Silva, de protesto contra a decretação do AI-5, recolheu-se a um silêncio prudente e atravessou o Governo Médici. Quando o General Ernesto Geisel assumiu a presidência,em 1974, inaugurando a distensão política, sentiu-se à vontade para iniciar a crítica do regime autoritário.

Entregou-se à elaboração do Projeto Brasil, que considerava uma proposta de reordenação econômica e institucional para reparar os desvios do modelo de desenvolvimento implantado após 1964, através da prática da democracia. A dissidência levou Teotônio ao isolamento dentro de seu Partido. Acusado pelo vice-líder do Governo na Câmara, Deputado Eduardo Galil, de ser "o cavalo de Tróia do MDB dentro da Arena", só lhe restou o caminho da Oposição, na reforma partidária de 1979.

o rompimento com a Arena ocorrera pouco antes, quando foi presidente da Comissão Mista que apreciou o projeto da anistia, enviado pelo Presidente João Figueiredo ao Congresso. Teotônio foi acusado de buscar as manchetes, com as visitas a presos políticos que promovia. Já na Oposição, esteve ao lado de trabalhadores nas greves do ABC paulista, e percorreu a região do Araguaia, estudando os conflitos de terra.

Um ano e meio antes de sua morte, teve os primeiros sintomas que levariam exames médicos a revelar nódulos cancerosos nos pulmões e cérebro. O tratamento o obrigou a desistir da reeleição no Senado. Mas recusou-se a sair da cena política. Levou sua voz por todo o país, participando dos comícios dos candidatos do PMDB aos governos estaduais. Defendia a decretação da moratória da dívida externa e a realização de eleição direta para a Presidência da República - que chamou de "dívida política" com a nação.

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