FONTE DE INSPIRAÇÃO.
Alberto Rostand Lanverly
Membro das Academias Maceioense e Alagoana de Letras e do IHGAL
Dias atrás, estive na Barra de São Miguel durante a semana. Na realidade aproximava-se o momento de minha posse na cadeira de número três da Academia Alagoana de Letras e eu necessitava dar os retoques finais no improviso que haveria de pronunciar, em tão importante evento de minha vida.
Como em situações anteriores, sabia que o melhor lugar para absorver inspiração seria caminhando nas praias daquele balneário. E parece que tudo conspirava a meu favor. Era uma terça-feira e o ambiente parecia deserto, não fosse um pescador solitário que jogava, compassadamente, sua rede de arrasto, na expectativa de encontrar o alimento da família.
A maré estava seca, o que me deu oportunidade de chegar bem próximo aos arrecifes e à Praia do Gunga, ficando sentado, por muito tempo, pensando e imaginando quantas vezes ali estivera, sem prestar atenção na imensa beleza de todo o ambiente, que nunca se repete, pois as croas, formadas pela alvíssima areia que se aglomera pela força das águas e dos ventos surgem, ali e alhures, diversificando o cenário e enobrecendo o local.
A brisa leve e salgada que batia em meu rosto, fez-me entender que, o cadenciamento das pancadas das ondas nas rochas calcárias, soa como música, como oração e, até mesmo, como poesia. A espuma que me acariciava o corpo, fortalecia meu momento de reflexão, fazendo-me flutuar, não somente por entre letras e palavras que haveriam de integrar o texto a ser pronunciado, em breve mas, também, sobre os episódios da vida, as pessoas amadas, que se encontram nas proximidades e também aquelas que já se foram para a longa viagem, embora jamais sejam esquecidas.
O mar da Barra de São Miguel tem seus encantos, seus segredos e, acima de tudo, milhares de virtudes, sendo, a principal delas, oferecer a tantos quantos a admiram, a certeza de que Deus existe. Assim, talvez relembrando o feito do Padre José de Anchieta, que séculos atrás, escreveu na areia o poema “da Virgem Santa Maria Mãe de Deus”, ali rascunhei a estrutura dos dizeres que haveria de proferir dias após, tendo-os passado para o papel, imediatamente, após em casa chegar.
Deixei aquele local muito feliz e tranqüilo, cada vez mais consciente de que, nas praias do balneário de meus encantos, para se alcançar a inspiração só é preciso parar, olhar em frente, ouvir as ondas e escrever, pois o mar da Barra de São Miguel foi feito para sonhar e enxergar toda a doce alegria e a capacidade interior que cada um de nós possui. Eu venero a Barra.
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