COMO CONSEGUI AMOLECER O CORAÇÃO DE UM GERENTE, ZELOSO, EFICIENTE, DURÃO, DO BANCO DO BRASIL, E POETA NAS HORAS VAGAS.
PAULO E QUICO RAMALHO
Em 1981, trabalhava no escritório de uma usina de açúcar em Maceió, que operava na Agência do Banco do Brasil em Atalaia, jurisdição da indústria, e tinha como gerente Jader Tenório.
Os financiamentos de entressafra já estavam devidamente aprovados com os respectivos cronogramas de liberação.
O ideal para o Banco, era liberar em sua totalidade, quando da aprovação, mas......
Fui convocado por um dos Diretores, para ir ao BB-Atalaia, solicitar ao Gerente, uma antecipação de liberação, pois os compromissos daquela semana estavam totalmente descobertos.
Fui a Atalaia, apresentei o problema ao Gerente, que de imediato falou da impossibilidade, pois estava com uma fiscalização realizada pelo Sr. Barroso, fiscal do Banco, caso ele finalizasse a fiscalização até o final da semana, ele liberaria.
Eu sabia que não havia impedimento, uma vez que a fiscalização é realizada de determinada data para traz, e o Gerente tinha total autonomia para liberar, caso houvesse alguma irregularidade, a canetada seria na próxima fiscalização.
Mas, prudentemente não insisti, porque ele poderia dizer que como não havia liberação prevista para a semana, não iria liberar, ai fechava o tempo.
Voltei à Maceió e disse ao Diretor que o Gerente estava irredutível, então ele me pediu que voltasse no outro dia para insistir, porque não havia recursos nem para o pagamento do pessoal.
Fui para casa e me isolei no gabinete escrevi o verso que segue, e ao chegar logo cedo ao escritório, pedi a telefonista que fizesse uma ligação com Jader Tenório, que ao ouvir disse que pedido feito em verso a um poeta é impossível negar.
Numa semana tão decisiva,
Exigindo de nós todo arrojo,
Depender de JADER nos tranqüiliza,
Nos preocupa é depender da saída do
Barroso.
(29.07.1981)
Em função desse verso, desencadeou os a seguir, cronologicamente apresentados:
Meu caro Paulo Ramalho,
Eu gostei do seu repente.
Sua glosa me enrolou,
e comoveu ao Gerente,
pois pedido feito em verso,
não há poeta que agüente.
Pensei que Ouricurí,
Não precisava de ajuda,
Mas vejo que a situação,
está um Deus nos acuda,
a coisa está mais preta,
que consciência de Juda.
Tenho mesmo que agir,
com excesso de atrevimento,
passar por cima de tudo,
e amenizar um sofrimento,
e dizer para você,
que amanha venha ver,
o dinheiro do pagamento.
Diga ao compadre Adelmy,
João Cordeiro e Bastião,
que eu gosto de ajudar,
dentro da programação.
Quando eu nego um pedido,
já está tudo fudido,
e não tem jeito mais não.
(Jader Tenório)
Vou findar sendo poeta até jeitoso,
Se toda vez que para o JADER telefonar,
Quando da estada do Barroso,
Ser obrigado a fazer verso e rimar.
Fiquei totalmente humilhado,
Diante de sua sabedoria,
Devia ter ficado calado,
E não bulir com quem não devia.
Não o conhecia como poeta matreiro,
Sabia que era gerente eficiente e malicioso,
Que não querendo liberar o dinheiro,
Usou o nome do Barroso.
Mas a consciência doeu,
E ao ouvir a minha rima,
De imediato cedeu,
Ajudando a folha semanal da Usina. (Paulo Ramalho 30.07.1981)
Meu grande Paulo Ramalho,
Foi boa sua interferência,
Cantou-me em Poesia,
e eu perdi a paciência,
Caí na sua enrolada,
A parcela foi liberada,
Viva a sua inteligência.
Você pegou o meu fraco,
e me enrolou pode crer,
Fez verso simples e profundo,
Tentado me convencer.
Disse que eu era matreiro,
Seu enrolão verdadeiro,
Cabra matreiro é você.
Notei que você é vivo,
Calculista e perigoso,
Trambiqueiro e enrolão,
Meio vigarista e manhoso,
E vem prá cima de mim,
Querendo botar assim,
Toda culpa no Barroso.
Toda essa esculhambação,
É para você aprender,
Que com poeta ninguém brinca,
Só que eu brinco com você.
Prá Adelmy e João,
Zé Pontes e Bastião,
Mando tudo a P.Q.P.
(Jader Tenório)
La vem eu novamente,
Com minha rimação,
Não deve ser coisa diferente,
Só pode ser antecipação de liberação.
Espero que desta vez não seja moroso,
E diga logo se libera ou não,
Lembre-se que não pode mais dá desculpa do Barroso,
Porque ele já terminou a fiscalização.
Como amigo quero me desculpar,
Mas não tenho culpa não,
É que o infeliz do Barroso,
Só rima com manhoso,moroso e não com espertalhão.
Voltando ao assunto da liberação,
De acordo com o cronograma de custeio,
Somente poderemos meter a mão,
Mais ou menos daqui há um mês e meio.
Porém como gerente sei que tem autonomia,
Como pessoa grande coração,
E arranjará um jeito de nos tirar dessa agonia,
Dando em nós mais esse empurrão.
(Paulo Ramalho 04.08. 1981)
Estou para você telefonando,
Neste final de agosto,
Para saber como estão andando,
As liberações dos financiamentos por nós proposto.
(Paulo Ramalho 21.08.1981 )
Se realmente for poeta,
Já tem a minha resposta,
Caso contrário não tem outra alternativa,
A não ser a de comer o que gosta.
(Paulo Ramalho 28.08.1981)
Maceió, 11/07/2013
Paulo Ramalho
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