Nem só de literatura viveu a 11ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que terminou neste domingo (7). Conforme se supunha já desde o anúncio da programação, a Flip 2013 deverá ficar lembrada por episódios que não envolveram discussões sobre “enredo”, “arco narrativo”, “personagens bidimensionais” ou “eu lírico”. Foi o caso do show de abertura, em queGilberto Gil promoveu uma “assembleia” para resolver problemas técnicos. Ou do protesto que, na tarde de sábado (6), parou a ponte que leva à Tenda dos Autores, espaço central dos debates. A franco-iraniana Lila Azam Zanganeh chamou atenção pelos atributos estéticos e intelectuais. Diligente, deu palestra no idioma nativo. E entrou para a coleção de musas do evento.
O próprio curador da Flip, Miguel Conde, confessou que a melhor apresentação a que assistiu foi de Eduardo Coutinho. Com seu “mau humor charmoso” (palavras de Conde), o cineasta foi aplaudido seguidas vezes. Especulou sobre os benefícios do cigarro e o vínculo com o budismo e fantasiou um mundo no qual seria ditador, aniquilaria emissoras de TV e seria deposto no dia seguinte. Pelos evangélicos. No que diz respeito ao (suposto) tema fundamental da Festa, sobressaiu o mexicano Juan Pablo Villalobos, por exemplo. Curiosamente, ele havia sido convocado às pressas para substituir um desistente, Karl Ove Knausgård. Cancelamentos de última hora, a propósito, foram outra característica da edição. Relembre, abaixo, dez momentos marcantes da Flip 2013.
Assembleia de Gilberto Gil
Ao verificar o incômodo do público por causa de problemas técnicos no show de abertura da Flip, na noite de quarta-feira (3), Gilberto Gil propôs uma “assembleia”. O gesto tinha um tanto de diplomacia e outro de sarcasmo: "Qual é a queixa? É relevante ou é difusa como as manifestações?" No dia seguinte, já durante sua aparição na Tenda dos Autores, comparou protestos a “festas rave” e ao “carnaval de Veneza”. Ganhou palmas.
Ao verificar o incômodo do público por causa de problemas técnicos no show de abertura da Flip, na noite de quarta-feira (3), Gilberto Gil propôs uma “assembleia”. O gesto tinha um tanto de diplomacia e outro de sarcasmo: "Qual é a queixa? É relevante ou é difusa como as manifestações?" No dia seguinte, já durante sua aparição na Tenda dos Autores, comparou protestos a “festas rave” e ao “carnaval de Veneza”. Ganhou palmas.
Bethânia e dona Cleo lendo Pessoa
Numa das mesas mais aplaudidas da Flip 2013, Maria Bethânia leu poemas de Fernando Pessoa. Foi acompanhada pela acadêmica Cleonice Berardinelli. Aos 96 anos, dona Cleo teve atuação bastante aprovada, não se deixando ofuscar pela cantora. Esta, ao término da declamação, que durou cerca de 1 hora, aproveitou para revelar o desejo de gravar um CD com obras do poeta português. Dona Cleo falou que topa formar uma dupla para o projeto.
Numa das mesas mais aplaudidas da Flip 2013, Maria Bethânia leu poemas de Fernando Pessoa. Foi acompanhada pela acadêmica Cleonice Berardinelli. Aos 96 anos, dona Cleo teve atuação bastante aprovada, não se deixando ofuscar pela cantora. Esta, ao término da declamação, que durou cerca de 1 hora, aproveitou para revelar o desejo de gravar um CD com obras do poeta português. Dona Cleo falou que topa formar uma dupla para o projeto.
Protesto na ponte
Os recentes protestos no Brasil interferiram diretamente na programação da Flip, que teve mesas extras dedicadas ao assunto. A manifestação, contudo, não ficou só no debate: no sábado (6), os paratienses resolveram saltar da teoria à prática e interditaram, por breves momentos, a ponte central da cidade. Bradavam por melhoras na segurança, na educação e no transporte marítimo. “Teca, teca, teca... Queremos biblioteca!” era um dos gritos de guerra.
Os recentes protestos no Brasil interferiram diretamente na programação da Flip, que teve mesas extras dedicadas ao assunto. A manifestação, contudo, não ficou só no debate: no sábado (6), os paratienses resolveram saltar da teoria à prática e interditaram, por breves momentos, a ponte central da cidade. Bradavam por melhoras na segurança, na educação e no transporte marítimo. “Teca, teca, teca... Queremos biblioteca!” era um dos gritos de guerra.
‘Stand up’ de Eduardo Coutinho
Gênio no papel de entrevistador (ele prefere o termo “conversa”) e relutante no papel de entrevistado, o documentarista protagonizou uma das melhores mesas da Flip 2013. No sábado (6), fez o público gargalhar quando insinuou que a FlipZona – programação paralela volta a adolescentes – poderia ser o espaço de “meretrício” de Paraty. Também afirmou não ser propriamente religioso, embora apele “a todos os santos” quando está num avião que enfrenta turbulência.
Gênio no papel de entrevistador (ele prefere o termo “conversa”) e relutante no papel de entrevistado, o documentarista protagonizou uma das melhores mesas da Flip 2013. No sábado (6), fez o público gargalhar quando insinuou que a FlipZona – programação paralela volta a adolescentes – poderia ser o espaço de “meretrício” de Paraty. Também afirmou não ser propriamente religioso, embora apele “a todos os santos” quando está num avião que enfrenta turbulência.
Tamim ‘envergonhado’
Escalado para a mesa “Literatura e revolução”, o cientista social e escritor egípcio Tamim Al-Barghouti conseguiu o mais difícil: sair de um Egito imediatamente pós-golpe. Mas falhou no mais fácil: se livrar de uma escala em Londres. Lá, teve o passaporte extraviado – não sabe se por perda ou furto –, e cancelou a vinda à Flip. No fim, o chamado “poeta da primavera árabe” mandou uma carta dizendo estar com vergonha. A desistência foi a última de uma edição que já tinha perdido o norueguês Karl Ove Knausgård e o francês Michel Houellebecq.
Escalado para a mesa “Literatura e revolução”, o cientista social e escritor egípcio Tamim Al-Barghouti conseguiu o mais difícil: sair de um Egito imediatamente pós-golpe. Mas falhou no mais fácil: se livrar de uma escala em Londres. Lá, teve o passaporte extraviado – não sabe se por perda ou furto –, e cancelou a vinda à Flip. No fim, o chamado “poeta da primavera árabe” mandou uma carta dizendo estar com vergonha. A desistência foi a última de uma edição que já tinha perdido o norueguês Karl Ove Knausgård e o francês Michel Houellebecq.
‘Graciliano nos representa’
A 11ª Flip precisou chegar ao último dia para que alguém ousasse na rima óbvia, mas oportuna, de Graciliano com Feliciano. Em boa mesa dedicada ao homenageado desta edição, o crítico Erwin Torrabaldo Gimenez mostrou ter senso de oportunidade, ao afirmar: “Graciliano, sim, nos representa”. Torrabaldo respondia a uma provocação do mediador José Luiz dos Passos. Um dos que melhor desempenharam a função durante os quatro dias de evento, Passos havia acabado de limitar o contato físico entre os participantes do debate a “beijo na boca”, eventualmente “de língua”.
A 11ª Flip precisou chegar ao último dia para que alguém ousasse na rima óbvia, mas oportuna, de Graciliano com Feliciano. Em boa mesa dedicada ao homenageado desta edição, o crítico Erwin Torrabaldo Gimenez mostrou ter senso de oportunidade, ao afirmar: “Graciliano, sim, nos representa”. Torrabaldo respondia a uma provocação do mediador José Luiz dos Passos. Um dos que melhor desempenharam a função durante os quatro dias de evento, Passos havia acabado de limitar o contato físico entre os participantes do debate a “beijo na boca”, eventualmente “de língua”.
‘Noruego x Carinha’
“Eu sei que vocês estavam esperando um noruego que devia ser alto, louro. E chegou este carinha aqui.” O comentário autoirônico de Juan Pablo Villalobos foi apenas o começo de uma das conversas que mais funcionaram na Flip 2013. Substituindo Karl Ove (o “noruego”), o mexicano dividiu cena com Tobias Wolff. Ao longo de debate, a dupla confessou mentiras e falou sobre como episódios de suas vidas podem resultar em literatura. Wolff confessou que o primeiro personagem que criou foi uma versão melhorada de si próprio – só que “bom atleta e mais inteligente”.
“Eu sei que vocês estavam esperando um noruego que devia ser alto, louro. E chegou este carinha aqui.” O comentário autoirônico de Juan Pablo Villalobos foi apenas o começo de uma das conversas que mais funcionaram na Flip 2013. Substituindo Karl Ove (o “noruego”), o mexicano dividiu cena com Tobias Wolff. Ao longo de debate, a dupla confessou mentiras e falou sobre como episódios de suas vidas podem resultar em literatura. Wolff confessou que o primeiro personagem que criou foi uma versão melhorada de si próprio – só que “bom atleta e mais inteligente”.
Lila musa e Francisco Bosco
Ela fala meia dúzia de línguas – incluindo um português bastante honesto e de sotaque francês – e começou a dar aulas em Harvard aos 23 anos de idade. Um currículo que, sozinho, é suficiente para causar impressão num evento literário. Mas a franco-iraniana Lila Azam Zanganeh causou boa impressão com as ideias defendidas durante a mesa na Flip. Francisco Bosco não ficou na posição de coadjuvante. O escritor fez uma brilhante exposição sobre a "literatura de prazer" e a "literatura de gozo".
Ela fala meia dúzia de línguas – incluindo um português bastante honesto e de sotaque francês – e começou a dar aulas em Harvard aos 23 anos de idade. Um currículo que, sozinho, é suficiente para causar impressão num evento literário. Mas a franco-iraniana Lila Azam Zanganeh causou boa impressão com as ideias defendidas durante a mesa na Flip. Francisco Bosco não ficou na posição de coadjuvante. O escritor fez uma brilhante exposição sobre a "literatura de prazer" e a "literatura de gozo".
‘Tarifa zero para poesia’
“Tarifa zero para a poesia”, “O poema lido jamais será vencido”, “A poesia pede passagem grátis” e “Para o poema o vinagre é um milagre” foram alguns dos cartazes mostrados na Flip pelo autor cuiabano Nicolas Behr. Ele participou da mesa "Maus hábitos" com Zuca Sardan. Behr explicou que tem o “mau hábito” de ser marqueteiro : “Eu quero ser encontrado. Não estou num quarto escuro procurando uma forma de me matar. Quero ser convidado para a Flip e fui".
“Tarifa zero para a poesia”, “O poema lido jamais será vencido”, “A poesia pede passagem grátis” e “Para o poema o vinagre é um milagre” foram alguns dos cartazes mostrados na Flip pelo autor cuiabano Nicolas Behr. Ele participou da mesa "Maus hábitos" com Zuca Sardan. Behr explicou que tem o “mau hábito” de ser marqueteiro : “Eu quero ser encontrado. Não estou num quarto escuro procurando uma forma de me matar. Quero ser convidado para a Flip e fui".
Flip ‘noveleira’
Nesta edição 2013, a programação paralela da Flip abriu espaço às novelas. Pela Casa do Autor Roteirista, passaram nomes como Lima Duarte e José Wilker, protagonistas do debate "Dias Gomes e o realismo fantástico de Saramandaia". Idealizadora do espaço e coautora da novela “Cordel encantado”, Thelma Guedes afirmou que o público é quem deve decidir se novela é ou não arte. "Não é porque você vai falar para um monte de gente que você vai fazer um trabalho sem qualidade, que não seja artístico."
Nesta edição 2013, a programação paralela da Flip abriu espaço às novelas. Pela Casa do Autor Roteirista, passaram nomes como Lima Duarte e José Wilker, protagonistas do debate "Dias Gomes e o realismo fantástico de Saramandaia". Idealizadora do espaço e coautora da novela “Cordel encantado”, Thelma Guedes afirmou que o público é quem deve decidir se novela é ou não arte. "Não é porque você vai falar para um monte de gente que você vai fazer um trabalho sem qualidade, que não seja artístico."
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