SAUDADES DO CARNAVAL
Num passado remoto, acredito que, há cerca de 30 anos, a festa ainda retratava todos os substantivos relatados acima. Naquelas épocas, o povo, mesmo os menos abastados, brincava, com romantismo e sem maldades; as figuras épicas do pierrô, da colombina, e do arlequim, personagens lúdicos do nosso carnaval, que foram extraídos do teatro italiano, faziam parte obrigatória da grande festa. Esses três personagens imortalizados no nosso carnaval, serviram de inspiração para o mestre Zé Kéti, junto com Pereira Matos, compor uma das mais belas letras e melodias da nossa música popular - “Máscara negra” - “Arlequim está chorando pelo amor da Colombina, no meio da multidão”… - esta linda canção que foi imortalizada pela grande Dalva de Oliveira, felizmente, até hoje, ainda é bastante cantada nos grandes bailes e nos pré-carnavais da sexta-feira e do sábado.
Aqui em nossa capital, algumas semanas antes do carnaval, a prefeitura municipal promovia as chamadas “maratonas” - em diversos bairros da capital eram armados palanques onde orquestras de frevo tocavam todas as noites, preparando os foliões para os quatro dias de folia.
Os festivais de músicas carnavalescas, também eram realizados todos os anos antes do carnaval, e tinham uma importância muito grande, tanto para a revelação de novos compositores da terra, quanto para a preservação da nossa rica cultura.
Os blocos populares, também saiam às ruas, desde, algumas semanas antes do carnaval propriamente dito; eles eram inúmeros e arrastavam poeira e multidões - “Cavaleiro dos montes”, “Amigos da onça”, “Cara dura”, “Sai da frente”, "Daqui não saio”, “Bota fora”, “Vulcão”, “Bomba atômica”, “Vareta de aço”, “Sururu da nêga” e muitos outros.
Naquelas épocas, no nosso carnaval de rua, chamavam a atenção, grandes passistas e autênticos foliões, como: o “Moleque Namorador”, “Rás Gonguila”, “Major Bonifácio” e tantos outros. Numa época mais remota, lembro com bastantes saudades de foliões que percorriam as ruas do bairro do Prado fantasiados à caráter - o saudoso “Didô” com sua imensa chupeta pendurada ao pescoço, era uma figura inconfundível.
Compositores como: Reinaldo Cavalcante, Edécio Lopes - o maior de todos - Roberto Becker, e Juvenal Lopes, também compuseram lindas canções, que as emissoras, naquela época, difundiam com bastante intensidade, motivando e incentivando as pessoas à participarem do verdadeiro carnaval.
As lanças perfume, devido à inocência e romantismo das pessoas da época, eram usadas, principalmente, pelas crianças, de forma, apenas lúdica; os confetes e serpentinas constituíam-se em apetrechos obrigatórios para todos os foliões - as “batalhas” ofereciam um colorido e uma beleza especial, tanto nos salões, quanto nas ruas.
O corso - desfile de veículos abertos, ornamentados, era um espetáculo à parte realizado nas ruas do centro da cidade - milhares de pessoas ficavam ao longo do percurso dos corsistas, ora aplaudindo, ora, espirrando água ou aroma das lanças, ou, atirando confetes e serpentinas. Era um espetáculo deslumbrante!
Infelizmente, com a partida do nosso maior difusor do verdadeiro carnaval - Edécio Lopes - ficamos sem a publicidade na mídia; para a nossa tristeza, o velho radialista e compositor não deixou herdeiros que continuassem a sua grande obra.
Resta-nos, parabenizar os fundadores e organizadores dos blocos de frevo, em especial, aos componentes do “Pinto da madrugada”, hoje, as nossas únicas opções de carnaval, ou pré-carnaval, pelo menos, na capital, que, melancolicamente, se despede da folia com o final do desfile do “Pinto da madrugada”.
“É de fazer chorar
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