quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

DEU NO JORNAL DA BESTA FUBANA


JOSÉ BORBA FILHO (ZÉ BÓIBA)

Chegou à Prata, nos anos 50 e foi prosperando no ramo de compra de algodão e cereais, até se tornar um dos homens mais influentes do lugar. Morava no único sobrado que havia na vila, era vaidoso gastador e generoso. Nas novenas do mês de maio, mês de Nossa Senhora, era comum cada noite ser patrocinada por um dos figurões do lugar, onde a paróquia e o padre sem esquecerem que o dinheiro também traz felicidade, promoviam além das celebrações sacras, as ditas profanas com direito a leilões de carneiros, bodes, galinhas assadas e até jerimuns; além das tradicionais salvas de foguetões e bacamartes.
Vaidoso como era, Zé Boiba dava a carga toda na sua noite. A noite de Zé Borba era uma festa à parte, a fachada da igreja era ornamentada de luzes e cordões e mais cordões de papeizinhos azuis brancos e vermelhos, além da praça de guerra promovida pelos estampidos dos foguetões e bacamartes. Era festa pra todo mundo, menos pra mim que morria de medo de tiros (ainda hoje morro) pequeno magro e feio ficava me entrelaçando nas pernas da minha mãe, feito um cachorro vira-latas com medo daquele tiroteio. Lembro-me da sua preocupação em amenizar o meu sofrimento, tentando tampar os meus ouvidos com a sua mantilha.
Pois bem, um certo dia a vaidade de Zé Borba cruzou com a sagacidade de um matuto sabido que morava ali perto na ribeira de São Francisco, chamado Miguel Leopoldo. Miguel era um cigano nas atitudes e também na aparência, era magro alto, com enormes bigodes cobrindo os cantos da boca. Usava um chapéu grande, botas de cano longo e camisas quadriculadas ao estilo dos “cowboys” americanos. Era antes de tudo um “trocador de cavalos” e jamais entrava num negócio em que não tivesse a certeza de que ia “lascar” o outro. Diziam que ele chegava ao requinte de pintar  com listras, as patas de velhos e inúteis pangarés para dar-lhes um certo ar de nobreza e conseqüentemente aumentar-lhes o valor.
O grande poeta e compositor Zé Marcolino, filho da terra, era antes de tudo um cronista nato e conhecedor das manhas e malandragens de Miguel e outras figuras dali, que de matutos só tinham o nome. Contava que um dia, depois de suas andanças com Luiz Gonzaga, estava na Prata para rever os amigos e beber daquelas águas caririzeiras, quando encontrou Miguel, com uma proposta tentadora:
— “Maicolino”, eu tô pra vender um animal de raça a Zé Bóiba, e se eu fechar negócio nós vamos tomar umas e outras e matar a saudade.
E, de fato, foi procurar Zé Borba que se encontrava sentado numa espreguiçadeira na calçada do seu sobrado, contemplando naquele fim tarde a feira da Prata que também estava terminando. Miguel montando um velho e cansado burro fazia à custa de muita espora o animal se esbaldar em evoluções na frente do comerciante que já queria a todo custo adquirir tão valioso animal.
O desfecho dessa história eu deixo para o genial poeta paraibano de Guarabira, Chico Pedroza que, mesmo sem haver conhecido nenhum dos três personagens nela envolvidos, traçou em versos uma descrição perfeita dos fatos. Eis aí o “trocador de cavalos”:
O TROCADOR DE CAVALOS
Quantas figuras marcantes
Habitam nossa lembrança
Fatos que aconteceram
Quando a gente era criança
Estão em nossa memória
Fazendo parte da história
Duma época que passou
Caminhando ao nosso lado
Fantasiando o passado
Que o tempo não apagou.

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