sábado, 25 de agosto de 2012

UM TEXTO DE RONALD MENDONÇA


Amar é dar razão a quem não tem
Ronald Mendonça
Médico e membro da AAL


Agosto é conhecido pelas bruxas brasileiras como o mês fatídico, em que as piores coisas costumam acontecer. Enumeram-se alguns fatos – não vou repisar todos -, como o suicídio de Getúlio Vargas, em 24/08/1954. Dentre outros infortúnios federais, registra-se, em agosto de 1961, a renúncia de Jânio Quadros.
Para compensar, há 100 anos, em 23/08, nascia  Nelson Rodrigues, o grande nome do teatro e da crônica brasileira, fato, aliás, que tem sido razoavelmente bem lembrado. A renúncia de Jânio – que ensejou um imbróglio que descambaria no golpe de 1964 – e o suicídio do “Pai dos Pobres”, talvez sejam objetos de alguma notinha.
Não sou íntimo da obra de Rodrigues. Tenho forte curiosidade sobre os seus escritos que remontam à minha adolescência, quando ávido corria para as páginas do extinto Jornal de Alagoas em busca de sua coluna “A vida como ela é”.
 Autor proscrito do Colégio Marista, onde estudei, era visto com reservas pelas famílias mais conservadoras. É que o autor de Bonitinha mas ordinária costumava relatar coisas que, como diria Roberto Jefferson (o Pai do Mensalão), despertava no adolescente que fui os instintos mais primitivos. Mais tarde, penetrei um pouco mais no texto do “Anjo Pornográfico”, descortinando horizonte além da permissividade.
O fato é que Nelson Rodrigues, muitas vezes hiperbólico, se imiscuiu na vida dos brasileiros, ora como retratista e irônico intérprete, ora como profeta. Por sinal, mantenho à cabeceira o seu livro Memórias, manancial que  faz parte dos meus rasos enlevos literários.
Frasista original e engraçado, agora mesmo, com o voto de amor e gratidão do ministro Lewandovsky, a eximir de todas as culpas o nobre deputado João Paulo, ocorrem-me dois enunciados: Um deles, de Stanislaw Ponte Preta, que teorizava: “Moralizemos a coisa ou locupletemo-nos todos.” O outro, do próprio Nelson, tem tudo a ver com o perfil ministerial: “Amar é dar razão a quem não tem”.
Por seu turno, João Paulo, certamente, deve estar às gargalhadas, repetindo o dramaturgo:”Se os fatos são contra mim, pior para os fatos”.
Encerro, lamentando a morte inopinada e brutal da conhecida e competente psiquiatra alagoana Fátima Lobo. Atropelada por uma moto em desvario, quando chegava ao trabalho, Lobinho, como era conhecida, é mais uma vítima da incúria, da loucura em que se transformou o desgovernado trânsito da capital alagoana. Com a palavra o gestor e seus competentes auxiliares.

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