sexta-feira, 27 de abril de 2012

UM TEXTO DE RONALD MENDONÇA


ELAS POR ELAS
RONALD MENDONÇA
MÉDICO E MEMBRO DA AAL


A tez algo pardacenta  valeu-me, no Colégio Diocesano da minha infância, espasmos de preconceitos. Com efeito, com uma razoável freqüência meu irmão Robson e eu éramos referidos como aqueles “negrinhos”, quando não, talvez mais adequadamente, como os “maloqueiros de Bebedouro”. Vez ou outra, um coleguinha se negava a  trocar safanões conosco, por nos considerar indignos dessas intimidades.  
 Rememoro esses fatos ao acompanhar o placar da votação no STF, que julga a constitucionalidade das cotas para negros, “afrodescendentes” como eu, nas universidades. Ninguém de sã consciência precisa de cachoeiras de conhecimentos filosóficos ou jurídicos para saber que a institucionalização do privilégio atenta contra um princípio elementar em todo e qualquer certame intelectual: o mérito. O resto é blá-blá-blá. Por sinal, só há um negro dentre os deuses do Supremo.
 A propósito, abril é um mês consagrado não só ao leão, mas também ao macaco, o contribuinte. A grande verdade é que esses caras que há anos brincam de governar e não  param de produzir escândalos cabeludos, eles próprios e os amiguinhos, bem que poderiam ter vergonha na cara e pelo menos providenciar escolas públicas com um mínimo de decência – como  aquelas dos “anos de chumbo”. Sim, porque o nosso dinheirinho minguado, subtraído a pulso, tem servido primordialmente para alimentar colossais fortunas pessoais. É o império do patrimonialismo. O curioso é que se sabe dos nomes, sobrenomes e até das opções de lazer dessa cambada. E nada é feito.
Falei de mérito. Em declínio desde a aplicação das famigeradas cotas, esta semana ele bateu ponto em pelo menos  dois eventos. Na Academia Alagoana de Medicina, com a posse da médica Hélia Mendes para a cadeira 33 – substituindo o proctologista Hélio Medeiros. A saudação da nova sócia não poderia estar em melhores mãos: a acadêmica e obstetra de várias gerações, Eleusa Passos Tenório. Com mais de 50 anos de exercício diário da profissão, Hélia é uma obstinada guardiã, a síntese do que existe de mais puro na arte hipocrática.
A Casa de Gracindo, a vetusta Academia Alagoana de Letras, também gloriosa elevou-se ao preencher a vacância do seu quadro com a posse da bailarina, professora e escritora Eliana Cavalcante. Escolha das mais felizes, ícone das artes cênicas do nordeste, a recipiendária foi saudada pela consagrada bailarina das letras, a poeta e escritora Vera Romariz. Artes e letras nunca estiveram tão juntas.




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