ELAS POR ELAS
RONALD MENDONÇA
MÉDICO E MEMBRO DA AAL
A tez algo pardacenta valeu-me, no Colégio Diocesano da minha
infância, espasmos de preconceitos. Com efeito, com uma razoável freqüência meu
irmão Robson e eu éramos referidos como aqueles “negrinhos”, quando não, talvez
mais adequadamente, como os “maloqueiros de Bebedouro”. Vez ou outra, um
coleguinha se negava a trocar safanões
conosco, por nos considerar indignos dessas intimidades.
Rememoro esses fatos ao acompanhar o placar da
votação no STF, que julga a constitucionalidade das cotas para negros, “afrodescendentes”
como eu, nas universidades. Ninguém de sã consciência precisa de cachoeiras de
conhecimentos filosóficos ou jurídicos para saber que a institucionalização do
privilégio atenta contra um princípio elementar em todo e qualquer certame
intelectual: o mérito. O resto é blá-blá-blá. Por sinal, só há um negro dentre
os deuses do Supremo.
A propósito, abril é um mês consagrado não só
ao leão, mas também ao macaco, o contribuinte. A grande verdade é que esses
caras que há anos brincam de governar e não
param de produzir escândalos cabeludos, eles próprios e os amiguinhos,
bem que poderiam ter vergonha na cara e pelo menos providenciar escolas
públicas com um mínimo de decência – como
aquelas dos “anos de chumbo”. Sim, porque o nosso dinheirinho minguado,
subtraído a pulso, tem servido primordialmente para alimentar colossais
fortunas pessoais. É o império do patrimonialismo. O curioso é que se sabe dos
nomes, sobrenomes e até das opções de lazer dessa cambada. E nada é feito.
Falei de mérito. Em declínio
desde a aplicação das famigeradas cotas, esta semana ele bateu ponto em pelo
menos dois eventos. Na Academia Alagoana
de Medicina, com a posse da médica Hélia Mendes para a cadeira 33 – substituindo
o proctologista Hélio Medeiros. A saudação da nova sócia não poderia estar em
melhores mãos: a acadêmica e obstetra de várias gerações, Eleusa Passos
Tenório. Com mais de 50 anos de exercício diário da profissão, Hélia é uma obstinada
guardiã, a síntese do que existe de mais puro na arte hipocrática.
A Casa de Gracindo, a vetusta
Academia Alagoana de Letras, também gloriosa elevou-se ao preencher a vacância
do seu quadro com a posse da bailarina, professora e escritora Eliana
Cavalcante. Escolha das mais felizes, ícone das artes cênicas do nordeste, a
recipiendária foi saudada pela consagrada bailarina das letras, a poeta e
escritora Vera Romariz. Artes e letras nunca estiveram tão juntas.
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