sábado, 31 de dezembro de 2011

UM TEXTO DE MARCOS DAVI MELO


AS ÚLTIMAS HORAS



A cidade está cheia. Não se consegue transitar em nossas ruas, em sua maioria estreitas, que mesmo em épocas normais já vivem atravancadas,
quanto mais agora, nestes dias que antecedem a virada de ano e os turistas somam-se aos moradores .Há um frenesi, uma ansiedade inexplicável nestes últimos dias e horas do ano que finda.


Ultrapassado o Natal, quando predomina o espírito de agregação, mesmo que apenas em torno de uma mesa abarrotada de comida e bebida, agora no réveillon, as pessoas estão ansiosas, angustiadas. Será porque não podemos ter junto a nós, nestes momentos todos os parentes que amamos? Será porque recordamos nossas perdas do ano que finda?Os parentes ou amigos que se foram? E isto nos acarreta uma inevitável noção de nossa finitude?


Mas também porque recordamos aqueles entes queridos que nos deixaram há bastante tempo, mas que estão sempre em nossos corações e em nossas mentes:como afirmava Battaille:” O passado é um segundo coração que bate em nós". Nos bares não há limites para o entornar dos copos:cerveja;vodka;uísque;cachaça;bebe-se de tudo e muito.


Na praia da Pajuçara,o melhor de nossa juventude está se bronzeando ao sol, que inclemente, torra os corpos seminus .36º na sombra e na areia da praia estiram-se meninas com minúsculos biquínis :tem facies angelicais, recém saídas da adolescência, mas os amigos mais espertos garantem que aqueles rostos angelicais encobrem ventres experimentados nas fornalhas das madrugadas. São os tempos atuais...


Estes últimos dias e principalmente, últimas horas, são ansiedade pura. Quantos casais há muito tempo juntos, maltratados pelo inclemente passar do tempo, vão para lá e para cá --- para Paris, Lisboa, MaxuPixu --- como a procura de algo perdido no tempo :talvez, a simples alegria somente por estarem juntos.Ou será apenas a insegurança com o futuro? Com o desconhecido?


Mas todos, sem exceção, terão o direito nos últimos minutos da última hora do ano, ao pipocar os fogos, silenciosamente, proferir o seu mais profundo desejo ,afinal, como dizia Mario Quintana”Se as coisas são inatingíveis...Ora!
Não é motivo para não querê-las...Que tristes os caminhos se não fora a presença distante das estrelas” .Feliz ano novo para todos.


Marcos Davi Melo


Médico

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