A BOMBA.
Neste ano de glória de 2011, nós, amigos, colegas concluintes
do curso da Academia Militar das Agulhas Negras - 1961, faremos um belo
encontro comemorando com saudades e lembranças esse cinquentenário. Entre os colegas certamente encontrarei os
coronéis, Rocha e Wanderley
No final dos anos 60, ambos eram capitães,
Rocha servia na Fábrica de Material Bélico em Piquete e Wanderley no 5º Regimento
de Infantaria em Lorena, cidades vizinhas, bem próximas. Época de repressão e
terrorismo em alta escala, em São Paulo aconteceram vários ataques terroristas
a quartéis do Exército e o caso do Capitão Lamarca, contemporâneo da AMAN.
Rocha depois de uma viagem de férias ao Ceará,
como sempre, trouxe um presente para o amigo. Era uma tarde de quarta-feira não havia
expediente no 5º RI. Capitão Rocha parou o carro em frente ao quartel, chamou o
soldado sentinela entregando um pacote envolto em papel jornal, pediu para
entregar ao Capitão Wanderley. Nesse momento o Tenente, oficial de dia, observava
o movimento, percebeu quando um cidadão entregou um embrulho à sentinela, deu
partida e acelerou o carro.
Imediatamente o tenente correu, ordenando ao
soldado colocar o embrulho no chão com cuidado, devia ser uma bomba, mandou tocar
alarme geral, desesperado gritava, é uma bomba!
Os soldados bem treinados tomaram posições
estratégicas sob o comando de sargentos e cabos, entrincheirados, atrás dos muros
e paredes, vigiavam, ao longe, a “bomba”, o embrulho imóvel, soberbo e
inatingível no calçamento.
Todo quarteirão foi interditado, desviaram
o trânsito para outras ruas, impedindo qualquer pessoa se aproximar. Enquanto
isso o embrulho, no meio da rua, solitário, fazia temer toda população que
espreitava nas varandas dos prédios da vizinhança esperando a bomba explodir a
qualquer momento. Logo a mídia tomou conhecimento, ficaram na expectativa. As televisões, jornalistas, fotógrafos se penduravam
em prédios fotografando aguardando o anunciado sargento sapador especialista em
desarmar bombas.
Foi nesse clima que o Capitão Wanderley,
vindo calmamente de uma pescaria, sentiu o movimento estranho ao passar perto
do quartel.
Os soldados relataram o ocorrido, o Capitão,
autoridade, foi verificar mais próximo o pacote, ao olhar a “bomba” de perto se
emocionou, reconheceu os abençoados pacotes, presentes constantes do amigo Capitão
Rocha.
Procurou imediatamente o Oficial de Dia, contou
sua versão sobre o pacote. O Tenente, nessa altura, não admitia outra hipótese,
a não ser bomba.
Os soldados protegidos, abrigados, ficaram
apavorados quando o Capitão acercou-se da bomba, sem proteção, indefeso.
Wanderley, com água na boca, pensava no
presente, aproximou-se do embrulho. A expectativa e o silêncio tomaram conta da
multidão, dentro e fora do quartel acompanhavam a insensatez, a maluquice do Capitão.
Com o embrulho aos pés, num gesto contínuo,
Wanderley abaixou-se, acocorou-se, segurou o pacote, imediatamente foi abrindo
pelos lados, retirou o papel jornal, as palhas de bananeiras protetoras, até
aparecerem 12 bonitas barras de rapaduras, douradas, como se fossem barras de
ouro nordestino.
Com os dedos, indicador e mindinho, quebrou
um pedaço da rapadura, levou-o à boca, deu uma bela dentada, sorriu de
satisfação. Colocou o pacote nas axilas, retornou andando devagar e calmo como
ele próprio. Mastigava carinhosamente a rapadura, lambendo os beiços diante de
uma enorme plateia pasmada, incrédula no que via acontecer, todos boquiabertos esperando
a bomba explodir, soltaram um uníssono e exclamativo. “Oh”. Foi um alívio geral,
a paranóia naquela época era contagiante.
OBS - ESTA CRÔNICA É PUBLICADA NA GAZETA DE ALAGOAS, NA TRIBUNA DO SERTÃO NA TRIBUNA DO CARIRI, NO JORNAL DA BESTA FUBANA, NO BLOG DO CHICO BRUNO, NO SITE PNET DE LISBOA E MAIS 9 BLOGS NO PAÍS.
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