sexta-feira, 2 de setembro de 2011

UM TEXTO DE RONALD MENDONÇA


Rien de rien
Ronald Mendonça
Médico


Instante é um dos poemas mais conhecidos de Jorge Luís Borges, o  falecido escritor argentino. É uma reflexão poética sobre o passado de um cidadão que lutara a vida toda contra a assustadora perspectiva de conviver nas trevas da cegueira, tragédia pessoal que marcou sua  existência. Aos 85 anos,   algo arrependido, Borges observa que poderia ter tomado mais sorvetes, que não devia ter levado a vida tão a sério e lamenta  não ter sido mais tolo do que foi.  Se lhe fosse permitido retornar, trataria de cometer mais erros,  de ser menos certinho e mais feliz... Naquele instante, reconhecia, era um pouco tarde para pôr em prática  as coisas que deixara de fazer.
João Cabral de Melo Neto, também teve seu  ato de contrição  ao pressentir o “bafo da magra” rondando seu leito. Com efeito,  o autor de Morte e Vida, faria comovente desabafo lamentando o distanciamento de sua primitiva religião, das suas ave-marias, orações  ensinadas pela mãe e que, por insegurança, modismo ou mero desafio, as renegara. Conta-se que, nos estertores, teria pedido para ouvir uma salve-rainha.  Antes de partir, queria ficar de bem com a mãe do Céu.
Diferentemente de Sinatra, que em My Way proclama  uns poucos arrependimentos, ao interpretar Je ne regrette rien, a  outonal Edith Piaff, apesar de todas as agruras pessoais, concupiscências e revertérios, ao lado de uma vida de fama e sucesso,  solta a potente voz de contralto e em altos brados desautoriza qualquer arrependimento.
 Gozando as delícias de doce refúgio em um balneário paulista, quem também se recusa a qualquer  penitência é o terrorista italiano Cesare Battisti, hoje mais um honrado cidadão brasileiro. Capa da IstoÉ dessa semana, é o tal cara que na Itália integrava uma facção criminosa. Trânsfuga internacional, no seu país está condenado à prisão perpétua por assassinatos.  Segundo boa parte dos italianos, não passa de um bandido comum.
Todos sabem que os grandes psicopatas não têm arrependimentos. Fascinados pela autoria  de crimes com requintes perversos, muitas vezes,  em juízo, são compelidos a  sinalizar essa “fraqueza”, apenas para  se livrarem de condenações menos suaves.
 Remorsos uma ova! Battisti dispensa-se dessa farsa pequeno-burguesa.  Por cima da carne seca, ídolo gauchiste, tem em Lula e Tarso Genro fiéis escudeiros. Aliás, Genro, ao hostilizar o governo italiano denominando-o de decadente, tem intencional dismnésia que o impede de lembrar que ordenha em um governo em insustentável declínio moral.

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