Nunca, na história desta cidade… – Marcial Lima
Nunca, antes, na história desta cidade, houve tanto clamor em defesa do carnaval. A UFAL realiza mais uma edição da série O Carnaval Que Nos Convém. Uma emissora radiofônica promove uma ampla mesa-redonda com os mais diversos segmentos interessados. O Fórum Permanente da Cultura trata do assunto. Colunistas, em doses homeopáticas, aqui e ali, sempre levantam a questão. Cronistas das mais variadas estirpes põem seu talento em defesa da causa. No entanto, em termos práticos, caminha-se para trás. Até o Concurso de Bois, acontecimento que motiva calorosa participação das diversas comunidades, após dois adiamentos, deixou de acontecer. O costumeiro desfile dos filiados à União dos Blocos Carnavalescos teve o mesmo destino.
Busca-se justificativa transferindo a responsabilidade para o orçamento municipal, que não havia sido aprovado. Isso é tudo? Ouso pensar que não, porquanto, se nossa municipalidade tivesse um projeto mínimo voltado para a cultura; se não tivéssemos o carnaval como um simples evento, e sim como resultado de um trabalho de ação cultural realizado durante todo o ano, com rubricas orçamentárias próprias, esse empecilho não aconteceria. Porém, como sonhar com isso se nos falta vontade política e amparo técnico? Como querer que o poder público evolua em seu modo de ser, se os envolvidos não fazem as palavras se transformarem em ação?
Somos pródigos no culto da magia simpática, essa categoria que nos leva a imaginar que a emissão do desejo traz o que almejamos. Somos prenhes em transferir responsabilidades; mestres em abandonar o ringue no primeiro assalto da luta. E por ser assim, quase nunca alcançamos a efetividade, quase sempre os movimentos não alcançam um mínimo efeito transformador. Por atuarmos fragmentados, sem uma agenda estratégica mínima, não passamos da catalogação de desejos e, como tal, tudo vai às calendas gregas. Geramos natimortos, infelizmente.
Nos dias que antecederam o carnaval, tivemos alguns fatos interessantes. A repórter pautada para cobrir os preparativos do Baile Municipal dizia-se encantada com o “glamour” do evento. Outra profissional, ao ver o Pinto da Madrugada se aproximando, disse entusiasmada que a “pipoca” estava chegando. Um nobre vereador mostrava não ver diferença entre o Pinto e o MaceióFest. E, quase sempre, fala-se em “resgatar” o Carnaval de Maceió, como se o propósito fosse buscar fragmentos do passado. Com conceitos e objetivos equivocados dificilmente chegaremos a bom termo.
Sobre o autor
Marcial Lima – Professor
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