OLINDA E MARECHAL
Aproximações (3)
Conceição Ferraz *
O sonho republicano, em Olinda plantado, um filho de Alagoas realizou. É mais uma
das aproximações que marcam Olinda e Marechal na história política brasileira.
Em 10 novembro de 1710, ouviu-se o primeiro grito em favor da República, no país
e nas Américas. Foi dado pelo sargento mor, Bernardo Vieira de Melo, nascido na
freguesia de Muribeca, atual Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco. Ele governou o Rio
Grande do Norte e foi ativo participante da Guerra dos Mascates – luta de classes entre
a nobreza de Olinda, formada por brasileiros, e a burguesia recifense, composta por
portugueses.
No Senado da Câmara de Olinda, ele se insurgiu contra a monarquia, na condição de
vereador e, em ato revolucionário, se opôs ao rei de Portugal. Os colonialistas fizeram
daquela data um marco para os nativos de Pernambuco. E Vieira de Melo tornou-se
precursor dos movimentos libertários no Brasil.
O Hino de Pernambuco, faz alusão ao fato histórico, no verso nº 04:
“A República é filha de Olinda
Alva estrela que fulge e não finda
De esplender com seus raios de luz.
“Liberdade”, um teu filho proclama:
Dos escravos, o peito se inflama
Ante o sol dessa terra da Cruz!”
Do casarão imponente do século XVII, que abrigava o Senado da Câmara, no sítio
histórico de Olinda, hoje, infelizmente, existem apenas ruínas das paredes onde está
gravado, na estrela de cinco pontas, a indicação do fato, com os dizeres:
“Aqui, em 10 de novembro de 1710, Bernardo Vieira de Melo deu o primeiro grito
em favor da fundação da República entre nós.”
Bernardo Vieira de Melo plantou a semente de sonho que viria a ser, efetivamente,
realizado, em 15 de novembro de 1889, pelo alagoano Manuel Deodoro da Fonseca,
filho da cidade alagoana batizada com seu nome.
Deodoro da Fonseca, nascido a 5 de agosto de 1827, abraçou a carreira militar
ingressando na Escola Militar do Rio de Janeiro em 1843. Jovem, aos 21 anos, integrou
as tropas armadas brasileiras que combateram a Revolta Praieira, em Pernambuco.
Alcançou o posto de coronel, em 1868, foi promovido a brigadeiro, em 1874, e,
finalmente, marechal, em 1884. Em 1885, foi nomeado chefe de armas da província do
Rio Grande do Sul, tornando-se presidente no mesmo ano.
Chegou ao Rio de Janeiro, em 1886, onde assumiu a liderança da facção do Exército
defensora da abolição da escravatura no Brasil. Presidiu o Clube Militar, cujo
objetivo era reforçar a questão militar que lutava contra a monarquia e defendia o
republicanismo.
Prestigiado pelos integrantes do movimento que planejava depor o imperador Pedro
II, liderou o processo revolucionário e, em 15 de novembro de 1889, proclamou a
República.
Assumiu provisoriamente o governo republicano naquela data e, ainda em 1890, criou o
Código Penal Brasileiro e reformou o Código Comercial.
Foi eleito, de forma indireta, em 1891, quando promulgou a primeira Constituição
Republicana do Brasil, de inspiração liberal. Seu governo marcou o fim dos elementos
constitucionais próprios da monarquia, como o Poder Moderador, o Senado Vitalício e a
união entre igreja e Estado. Instituiu o casamento civil e tornou laicos os cemitérios.
Deodoro da Fonseca é ícone da república brasileira e, em especial, orgulho dos
conterrâneos. Diz o hino de sua cidade natal:
“Viverás Marechal Deodoro
Os teus filhos refeitos de glórias
Harpejando teu canto sonoro
Ficarás perenal na história”
A história, na confluência de gestos, aproximou as virtudes de Olinda e de Marechal.
Homens, que fizeram história, estão juntos na contribuição para que o povo brasileiro
sentisse o gosto da liberdade. Sonho pensado em azul, perpetuado em verde e amarelo.
* Docente de Gestão da Cultura da Faculdade Santa Maria
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