HONORÁRIOS AVÓS
RONALD MENDONÇA
MÉDICO E ESCRITOR
Avô de dois netos, Caio e Maria Clara, costumo me enternecer com histórias
de avós e avôs. Com tanto carinho por essas figuras, o destino pregou-me uma
peça imperdoável: não conheci meus avós masculinos. Em compensação, tive
uma convivência frutuosa com as avós. Uma delas, a Vó Docinha, foi decisiva na
minha educação. A ela atribuo a aquisição da leitura e a habilidade de realizar com
desembaraço as quatro operações aritméticas, antes dos seis anos de idade. Com vovó
Moreninha o convívio foi mais longo. Praticamente morreu em meus braços, eu adulto e
médico, tentando, in extremis, reanimá-la com desesperada e inútil “ boca à boca”.
Monteiro Lobato, com a sua imortal D. Benta, (a Vó Benta) conseguiu juntar em
uma só personagem a dona de casa, a mãe-avó de crianças, além de grande contadora
de histórias, uma aventureira disposta a mergulhar de corpo e mente nas fantasias
mitológicas dos netos e agregados.
O coronel José Paulino, avô do órfão Carlinhos, de Menino de Engenho, do
paraibano José Lins do Rêgo, foi outro que saltou das páginas da ficção para preencher
o “vazio de avô” da minha infância e adolescência.
Na vida real conheci senhores e senhoras maduros que assumiram a função de
pais atentos, criando filhos de filhos, sem abrir mão da condição de avós. Também
testemunhei emocionadas provas de gratidão e ternura de netos sendo acompanhados
em cerimônias de formaturas e casamentos por orgulhosos idosos (alguns de bengala e/
ou cadeira de rodas).
“A natureza imita a arte”, teria dito Oscar Wilde. Nossos homens públicos têm
dado exemplo de incoercível afeto por seus netinhos. Cito três grandes líderes com esse
invejável perfil: José Sarney, Paulo Salim Maluf e Luiz Inácio Lula da Silva.
O honorável Sarney, como a imprensa já noticiou, pôs o Senado da República
à disposição de sua netinha querida, amparando o namoradinho da menina. Maluf,
durante pretérita campanha para prefeito, sonhava em fazer uma administração voltada
para os netos, a exemplo das anteriores dedicadas à família, em especial ao filho Flávio.
Já o nosso estimado Lula, cujo pimpolho Lulinha é o Bill Gates brasileiro, transformou
seu netinho de 14 anos praticamente num diplomata do Itamaraty.
Um novo Rio Branco, certamente, está a caminho. Quem sabe um Rui
Barbosa ou um Osvaldo Aranha. Lulinha Neto, aos 14 anos (assim como dois titios),
supostamente ao arrepio da lei, tem passaporte diplomático especial, privilégio
reservado a titulares de ministérios e outros figurões. Nada como um bom avô.
Nenhum comentário:
Postar um comentário