sábado, 20 de novembro de 2010

SEBASTIÃO NERY



O conhaque do presidente
Rio – Alcântara era contínuo do palácio do governo do Rio Grande do Norte. Afonso Pena, presidente da República (1906 a 1910), ia visitar o estado. Alcântara pediu para fazer parte da comitiva que esperaria o presidente na estação ferroviária de Nova Cruz, na fronteira da Paraíba.
O governador deixou. Mas o secretário do governador achou um absurdo. Onde se viu contínuo esperando presidente? Chamou o Alcântara:
- O governador deixou, você vai. Mas antes de o trem chegar na estação, você salta no triângulo. (triângulo é o ponto de manobra dos trens, na entrada das estações).
Afonso Pena
O trem do governador chegou na frente, Alcântara saltou no triângulo. Daí a pouco o trem do presidente entrou no triângulo para fazer manobra. Alcântara subiu, foi entrando, deu com o presidente.Foi o primeiro a dar as boas-vindas a Sua Excelência. E foi mostrando a cidade da janela.
Quando o trem do presidente chegou à estação, o governador, o secretário, os puxa-sacos, todos levaram um susto. Era Alcântara quem aparecia na porta, ao lado do presidente, apresentando-o às autoridades.
Seguiram para Natal. Cansado, o presidente chegou ao palácio e pediu logo um banho. De repente abriu a porta do banheiro,meteu a cabeça:
- Onde está o Alcântara?
Alcântara
Alcântara apareceu, entrou, saiu, voltou. Ninguém entendia nada. E Alcântara sendo chamado, e Alcântara atendendo. No dia da partida, à beira do cais (o Presidente voltou de navio), Afonso Pena chamou Alcântara, deu-lhe um abraço e lhe falou algo ao ouvido. Alcântara sorriu, saiu calado.
Um mês depois, o Diário Oficial da União publicouum ato de Afonso Pena nomeando Alcântara administrador do porto de Santos. Foi um escândalo no Rio Grande do Norte. No bolso do paletó, tamanho portátil, Alcântara carregava uma garrafinha de conhaque francês. E Afonso Pena era doido por um golinho de conhaque francês.
Jabuti
Vitorino Freire, senador e filósofo do Maranhão, sabia eensinava:
- Se você encontrar um jabuti em cima da forquilha, procure saber quem pôs o jabuti na forquilha. Porque jabuti não sobe em forquilha.
Uma semana depois, veio o AI-5 (13 de dezembro de 1968).
Esta semana, apareceu um jabuti na forquilha editorial brasileira. Sergio Machado, presidente da Editora Record, um dos maiores grupos editorais do país, protestou na Folha contra a entrega a Chico Buarque do Prêmio Jabuti de Literatura 2010, dado pela Câmara Brasileira do Livro.
Chico
1. – ´O Jabuti virou um concurso de beleza com critérios de programas como os de Faustão e Silvio Santos. O fato é ainda mais grave quando é evidente que a premiação foi pautada por critérios políticos, da grande política nacional ou da pequena política do setor livreiro editorial`.
2. – ´Leite Derramado`, de Chico Buarque (Companhia das Letras), foi premiado como livro do ano de ficção, embora na categoria romance ele tivesse ficado em segundo lugar, atrás de´Se Eu Fechar os Olhos Agora`,de Edney Silvestre (Record).´Leite Derramado`ganhou também o ´Portugal Telecon`. Meu protesto não é contra quem ganhou, é contra o processo`.
3.- ´A concepção do prêmio favorece essa característica de celebridade. Se eu amanhã publicar um livro infantil da Xuxa, é capaz que eu ganhe. Quer dizer, fica combinado assim: quando Chico Buarque tiver um livro, ele já ganhou.O Edney foi roubado,garfado.Uma coisa desagradável.`
Haddad
O honrado ministro Haddad não tem o direito de sair antes de abrir e desfazer esta caixa-preta, que evidentemente não começou com ele. Em um país onde um chefe da Casa Civil comandou o mensalão e outra chefe da Casa Civil faz trambiques familiares, como gastar bilhões do Orçamento sem o país saber o critério? Onde está o Tribunal de Contas? E a CGU?
Este é o mistério, o conhaque do presidente.

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