sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA - Carlito Lima

SEGREDO JURAMENTADO

Bacanal - Picasso
         
         “Recordando essas coisas tão boas... Sou feliz, não me sinto tão só... Toda gente que sai de Alagoas... Coração deixa em Maceió”.  Feito a canção do mineiro, aconteceu com o catarinense Fagundes, voltou depois de mais de 40 anos. Fui visitá-lo no hotel, hospedado com a esposa e três netos, veio rever a inesquecível cidade, deixou o coração em Maceió. Passamos a tarde tomando cerveja embaixo dos coqueirais. Recordamos bons tempos, boas histórias dos anos dourados.
           Fagundes chegou em Alagoas final dos anos 60, gerente de um forte banco. Alto, louro, educado, bom moço, fez sucesso com as meninas da cidade. Em Santa Catarina jogava voleibol por um clube, facilitou ser convidado para equipe do CRB. Solteiro, morava no Hotel Atlântico na Avenida da Paz, perto do centro e da boemia de Jaraguá.
        A hospitalidade dos alagoanos deixou Fagundes à vontade. Entrosou-se com os viventes da cidade. Simpático, envolvente, logo conhecia as figuras carimbadas. Naquela época empréstimo financeiro negociava-se nas poltronas com gerente de bancos. Fagundes era convidado para aniversários, casamentos, assíduo frequentador do Zinga-Bar de Riacho Doce, e dos cabarés. Apaixonou-se pelo litoral nordestino, embora Santa Catarina seja bem aquinhoada de belas praias, encantou-lhe os coqueirais embelezando as praias. Fagundes trabalhou três anos em Maceió, divertiu-se, fez muitos amigos, um dia teve que seguir destino.
          Dois de seus amigos alagoanos ficaram no coração e na memória do catarinense, Betão jornalista famoso e Eduardo assessor de um conhecido deputado. Boêmios da melhor qualidade, gostaram do "Catarina", convidavam para festas de fim-de-semana. Os dois eram casados, entretanto, viviam como solteiros fossem.
            Certa noite de sexta-feira levaram Fagundes ao aniversário de Benedito Bentes, conhecido empresário, homem de sociedade, esportista, cogitado várias vezes ao governo do Estado, enfim um dos grandes alagoanos da época. A casa de Benedito Bentes, ficava no início da Avenida Fernandes Lima.  Casa solta, avarandada, um belo jardim, quintal enorme, onde nós jogávamos bola. Bentes, festeiro inveterado, gostava de receber amigos, artistas. O dia de seu aniversário tornou-se tradição, não precisava convite, os amigos levavam mais convidados. Benedito Bentes morreu cedo, 56 anos, tornou-se figura lendária, hoje é nome de bairro em Maceió
            Fagundes, adorando a festa, muitos amigos, muitos clientes do banco, divertindo-se naquele animado aniversário. Quase ao término da festa, Betão e Eduardo convidaram o amigo, estavam saindo para outro aniversário, no mesmo dia, outro Benedito, o Benedito Alves dos Santos, o popular Mossoró, dono da noite de Maceió. Ao chegarem na Boate Areia Branca, os três foram recebidos pelo aniversariante em uma vasta mesa com amigos e belas damas.
            Betão e Eduardo, irreverentes boêmios, foram catando as melhores meninas desacompanhadas, quando completaram quatro raparigas puro sangue, Betão pediu a Mossoró um apartamento para os amigos e as meninas. Estavam afim de um "menàge à sept" para mostrar ao catarinense o vigor sexual dos alagoanos. Mossoró devia um grande favor a Betão, certa vez ele escreveu uma matéria defendendo a permanência da boate do Mossoró, contribuiu para o cabaré continuar aberto.
        Em pouco tempo apareceu Roberto, filho do Mossoró, o apartamento estava pronto. Era o de uso particular do proprietário, onde ele dormia nas noites que não voltava para casa da Ponta Verde.
      Fagundes ficou nervoso,  tímido para esses arroubos sexuais, jamais havia participado de uma suruba. Quando de repente na maior algazarra entraram no apartamento especial, uma dama veio lhe fazer carinho, empurrou-o na cama. Ele constrangido, nunca tinha visto aquelas cenas dantesca, pernas se cruzando. Quase uma hora de agonia, não conseguiu. No final os amigos consolaram, a brochada era natural, etc...
           Na volta, dentro do carro, Fagundes pediu segredo a Eduardo e Betão, a história do incidente ficasse entre eles, se os amigos soubessem iriam gozá-lo durante muito tempo. Os dois juramentaram segredo. Por eles jamais saberiam.
          Na segunda-feira pela manhã ao entrar no banco, Fagundes sentiu alguns olhares irônicos dos funcionários, risinhos e sorrisos abertos dos amigos, por mais de uma hora, ele desconfiou, havia alguma coisa no ar. Até que um colega mais íntimo contou, a notícia se espalhou pela manhã, todos sabiam da pifada de Fagundes na Boate Areia Branca.  Já no domingo a notícia corria pelos bares, pelas barracas, pela praia, pelos clubes; toda cidade sabia: Fagundes, o gerente do Banco, brochou.


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