EMOÇÕES (2)
Por: » RONALD MENDONÇA – médico e membro da AAL.
Aos doze anos, depois de uma rápida passagem pelo Juvenato Nossa Senhora da Conceição, em Recife, desisti da vida monástica. Sonho disputado com o desejo de vir a ser médico, qual meu pai, desvanecera-se no ar, tais os sólidos na metáfora de Marx. Um mês me bastou para reconhecer que não nascera para aquela vida.
Num piscar de olhos, veterano médico, já quase cinquentão, vi-me debruçado ao teclado de um computador, literalmente dedilhando textos para jornal. Eis que um novo mundo estava a se descortinar. Como todo aprendiz, escorreguei muito (ainda hoje escorrego, sem me considerar um sênior na arte de escrever).
O primeiro texto foi publicado no O Jornal, por puro acaso. Engatinhava no computador quando arrisquei mandar o texto para a redação. Não alimentavailusões de permanecer escrevendo. Ocorreu que o artigo foi lido por dr. Ib Gatto, simplesmente o presidente da AAL. Ele gostou tanto que publicou comentários a respeito do tema. Tratava-se de assunto polêmico, meio “desabafo de pai”, sobre o vestibular na Ecmal. Outras pessoas opinaram. Alguém pode dizer, não sem razão, que o
polêmico articulista estava nascendo...
Várias vezes pensei em desistir. Sobretudo quando, em vão, buscava o meu modestíssimo texto nas páginas e... nada. A vontade era de mandar tudo às favas. Desagradável sensação de perda de tempo. O cirurgião treinado em outros campos de batalha estava nas cercanias de um território desconhecido. Um novo aprendizado que, como na medicina, dura a vida toda.
As páginas da Gazeta não foram fáceis de conquistar. Tal qual num caso de amor à moda antiga, as coisas foram acontecendo. Envergonhado, entregava os textos a um prestimoso intermediário, como cartas de amor em tempos medievais. A irregularidade foi substituída por uma quinzenalidade.
Um dia, o Enio Lins me telefonou para dizer que os artigos seriam semanais. Ele mesmo me tranquilizara sobre os temas: “Com esses caras fazendo bobagens, você vai ter assunto para escrever todo dia”.
É assim que estou aqui, vivendo esse momento lindo dos 80 anos da Gazeta. Tinha quatro anos quando Arnon de Mello recriou esse jornal. Cresci lendo Donizetti Calheiros, Genésio Carvalho, o próprio Arnon, Paulo Silveira, Cassella e tantos outros. Jamais imaginei que um dia ocupasse essas páginas. Hoje, timidamente, fazendo companhia a “feras” como Milton Hênio, José Medeiros, Carlito Lima, Aloísio Alves, Lysette Lyra, Eduardo Bomfim, o saudoso Cônego Fernando Iório, José Maurício Breda e outros colaboradores ilustres... Nesses anos na Gazeta, “olhando” para vocês semanalmente, incidem as mesmas emoções dos primeiros dias. Ainda parodiando, digo: se sorri ou se chorei, o importante é que emoções eu vivi.
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