SORRINDO E
QUERENDO CHORAR...
Voltando ao glorioso dia 8 de janeiro, eu
esperava cerca de 100 amigos, mas às 8 da noite o bar estava lotado, de repente
aparece o Téo Vilela com uma Banda de Pífano, animou a festa mais ainda. Houve discursos, cantoria, contação de casos,
estavam meus amigos militares junto aos amigos comunistas no auge da ditadura,
três raparigas, uma cafetina sentadas junto a um padre, foi a mais alegre
despedida de um boêmio daquela época. Terminamos com o dia amanhecendo cantando
em ritmo de guerreiro: "A minha turma que bebe um pouquinho no Bar do
Miltinho até o sol raiar..."
Acordei-me às 11 da manhã, vesti um
velho calção de banho, merecia um mergulho no mar escandalosamente azul esverdeado
de verão na praia da Avenida. Ao
atravessar a rua leio uma faixa atravessando a Avenida da Paz do coreto a um
poste: "As meninas do Mossoró choram a perda do líder, Carlito Lima casa
hoje". Mossoró era o dono da noite
naquela época, tinha a casa de mulheres mais famosa de Maceió, a Boate Areia
Branca. Ao retornar soube por meu irmão que na cidade havia várias faixas com dizeres
parecidos. Na Gazeta de Alagoas estava meu nome como se fora uma nota fúnebre
convidando o povo para o casamento às 20 horas na Catedral onde haveria farta
distribuição de bolinhos e salgadinhos.
Descansei toda tarde, recolhido em meu
quarto, pensando na vida, achava que estava na hora de casar, 30 anos naquela
época era solteirão, perguntava a mim mesmo o que será? Meu espírito de boêmio se
acostumará a vida de casado? Eram seis e meia da noite quando Dona Zeca me
acordou. Fiz a barba, um banho demorado, o último como solteiro, vesti minha
farda de gala de capitão, estava pronto para o casório. Embarquei no carro com
meu pai, amigo e conselheiro. Ao chegar na Catedral me espantei em ver uma
quantidade enorme de pessoas do lado de fora, no "sereno" par
assistir a entrada do casamento.
A Catedral lotada de convidados, eu no altar esperando,
a noiva atrasou quase uma hora, os amigo brincavam, a noiva fugiu. De repente
Vânia entrou com seu pai, linda com seus 21 aninhos, vestida de noiva, sorrindo
e querendo chorar....
A cerimônia do casamento foi belíssima. A Banda de Música do 20º Batalhão de
Caçadores tocou a marcha nupcial e belas músicas no auge da MPB, da Bossa Nova.
Após a cerimônia saímos de braços dados, do lado de fora da igreja estavam meus
colegas oficiais do Exército com suas espadas levantadas fazendo um túnel, a
abóboda de aço, por onde juntinhos abaixados atravessamos. Durante a recepção a
alegria reinou com uma banda de Pífano, muito uísque, muitos amigos, está
gravada na memória aquela noite, das mais importante e mais feliz de minha vida.
44 anos se passaram, o céu nem sempre de Brigadeiro,
algumas rotas de colisão, alguns percalços, soubemos enfrentar, nenhuma
tempestade poderá mais fazer nosso barco
afundar, além de tudo, agora já avistamos a praia. E retenho em minha mente, em
minhas lembranças nítidas, como de fosse hoje, a imagem da noiva entrando na
Igreja, sorrindo e querendo chorar.
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