OS BONS SÃO AS CRIANÇAS DE REALENGO.
Assisto, estarrecida, o que a mídia vem fazendo com as crianças de Realengo, na
Baixada Fluminense.
Crianças, acreditem, vocês são as vítimas de um insano maquiavélico com requinte de
crueldade.
A mídia é que equivocadamente, vem buscando explicação, quase justificando e
transformando o lobo mal em vítima do sistema.
As meninas, simplesmente por serem do gênero feminino, pagaram com a vida a
rejeição das mulheres em relação ao algoz.
Atenção, as crianças não conheciam o assassino, não o rejeitaram, não tiveram nenhuma
responsabilidade pelo rumo tomado ou escolhido por ele.
O Diário de Pernambuco, numa das edições desta semana, divulgou na capa a carta
deixada por esse personagem do mal que logo, em se tratando de Brasil, será uma
celebridade com direito a filme sobre sua sofrida trajetória de vida. Será que foi?
Sofridos estão os pais desses meninos e meninas, sofrida está a comunidade, sofridos
estão os brasileiros que não conheciam este tipo de violência. Sofremos, sim, outro tipo
de violência urbana, difusa e irrecorrível.
Os jovens brasileiros, conforme acentuam as estatísticas sobre a violência no País,
sofrem o hiato dos 14 aos 22 anos. Lutam, ferrenhamente, para não perder a guerra
para o tráfico. Lutam para sobreviver a falta de educação de qualidade. Lutam pela falta
de políticas públicas voltadas para os jovens em situação de risco. Lutam pela falta de
oportunidade. Lutam por um pouco de amor. E são negados no desamparo institucional.
Seria mais produtivo se a mídia destinasse parte do horário nobre para cobrar, às
autoridades, o desempenho de seu papel perante a sociedade. Sugerir soluções objetivas
para salvar os nossos brasileirinhos de tragédia diária, silenciosa e marginal.
A mídia divulga, de forma massacrante, episódios como este, diariamente, na busca
frenética por audiência. Poderia, ao contrário, tomar como reflexão recente publicidade
da Coca Cola: “os bons são a maioria”. Os bons são as crianças de Realengo.
* Docente da Faculdade Santa Maria

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