sábado, 30 de maio de 2015

UM TEXTO DE RONALD MENDONÇA

BABILÔNIA

RONALD MENDONÇA
MÉDICO E MEMBRO DA AAL

Meus amigos e os poucos leitores já me advertiram: não aguentamos mais que você fale em hospital psiquiátrico. Tenha dó, seu Ronald, já está enchendo. Você se transformou num escritor monotemático. Só falta falar em imprensa hegemônica e reacionária.
Meus familiares estão me recomendando temas. A falta d´água de São Paulo. Os refugiados africanos, a aproximação de Tio Sam com Vô Fidel, o pibinho brasileiro... Até os roubos que o PT comandou na Petrobrás... Pelo amor de Deus, Ronald, tudo menos Zé Lopes, hospital psiquiátrico e luta manicomial.
A carne é fraca e o espírito vacilante. Nesta quinta, participei de uma audiência pública na Câmara dos Vereadores de Maceió. Não deveria ter ido. Não tenho mais idade para ouvir de uma autodenominada auditora que “fecha” o hospital no dia em que ela encontrar um aparelho de eletrochoque. Santo Deus! Quanta arrogância! Quanta ignorância!
A dirigente da Saúde Mental do município (uma assistente social despreparada, que nada entende de psiquiatria) é uma catástrofe quando resolve abrir a boca. Melhor seria o mutismo acinético. Seria estratégico. Ninguém ficaria sabendo do tamanho do seu dessaber. Lá pras tantas, resolve dizer que o HGE já está recebendo portadores de distúrbios mentais... São dois leitos, segundo a dirigente.
Vi-me quinze anos atrás, na mesma câmara municipal, quando participei de um debate fajuto de cartas marcadas. Naquela ocasião, uma senhora, creio psicóloga de formação, resolveu chutar que conhecia um caso de cura de doente mental ocorrida justo num hospital geral do interior. Com este único caso (N=1), a psicóloga apregoou sua revolucionária teoria.
Felizmente, não apareceu nenhum gestor para divulgar que não existe hospital psiquiátrico na Grã Bretanha... Ou aquela que ensina que doente psiquiátrico é igual a qualquer doente crônico, como o diabético e o hipertenso... Que na Europa e nos Estados Unidos não existem hospitais psiquiátricos... Ninguém teve o topete de dizer que os donos não abrem mão dos lucros...

Pensando bem, valeu a pena ouvir uma Heloisa Helena. Sem medo de desagradar, HH muito mais sensível, está a léguas dos leitores do livrinho sobre a Reforma Psiquiátrica. Valeu a pena testemunhar o parecer de uma jurista do status de uma Micheline Tenório, enquadrando os que, maldosamente, levaram a Saúde Mental em Maceío a esta torre de babel.

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