domingo, 1 de março de 2015

UM TEXTO DA CARLA NOBRE, DESDE MACAPÁ - AMAPÁ

Amanheci pensando em Deus e na minha professora de 3ª série. Ela que me ensinou essa coisa complicada de conjunto finito e infinito. Aquele círculo fazendo um cercadinho em três bolas, duas pessoas ou cinco sorvetes. Finito. As estrelas e os números. Infinito. Parecia simples de entender e acho que até consegui um 10. O grande problema a resolver é que a gente vai ligando os conceitos ao longo da vida e a classificação exata dos conjuntos vai se complicando. Deus entra nessa história quando criou tudo bonitinho no cercado do paraíso. O primeiro homem, a primeira mulher, a nudez, a vida, a maçã, a serpente e até descansou no sétimo dia, achando talvez que seu conjunto tinha ficado perfeito. Aí, penso eu, os dias foram se passando e o conjunto do paraíso com toda a vida e a beleza, ficou um pouco imperfeito para Deus. Penso ainda mais, ele deve ter tido uma boa conversa com a serpente para que ela o ajudasse na empreitada de fazer com que o mundo, seu lindo mundo, se ampliasse para além daquele cercadinho finito. Eu, parece que vejo a serpente dizendo, - mas Senhor, vou acabar levando a fama da maldade, imagina tirar duas pessoas da vida perfeita... - não tem problema, disse Deus com aquele jeito de pai, - eu te dou o veneno e as cores certas para você espantar essa fama. E aproveito para deixar você com o sangue frio necessário para entender quem adora julgar. E assim foi feito. Deus ajudou a gente a sair do paraíso e a conhecer um pedaço do seu conjunto infinito. É engraçado como as vezes podemos marcar o dia de um nascimento, até mesmo a hora exata, escolher as condições melhores... mas o dia da morte, desde que perdemos o paraíso, vem sendo uma surpresa a mais na bondade de Deus. Nos pega desprevenidos. Talvez para que possamos perceber que os tais conjuntos finitos e infinitos são realmente complicados. Há sempre grandes perguntas sem respostas quando temos em um cercadinho três bolas, duas pessoas, cinco sorvetes... e o que dizer das três marias da infância? Ou ainda de um simples número ímpar? E em que conjunto colocar ao certo o momento da partida de alguém? De repente todos os possíveis conjuntos finitos desse alguém viram infinitos conjuntos de lembranças espalhados no cosmos... eu amanheci com vontade de reencontrar minha professora e pedir que me tirasse aquele possível 10 que peguei na 3ª série. Acho uma injustiça não ter aprendido a beleza dos conjuntos finitos. E se pudesse agradecer a Deus por alguma coisa do conjunto infinito que ele nos deu, eu agradeceria o conjunto finito da minha vida. É que assim acho que entendo mais dos conjuntos infinitos que cabem nos conjuntos finitos dos dias que reparti um sorvete com algumas pessoas amadas e daqueles dias que findei a tarde jogando queimada com uma bola velha e alguns amigos de infância... tudo finito, tudo infinito...

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