segunda-feira, 30 de março de 2015

QUANDO DEMOLIRAMA BELÍSIMA CASA ROSA EM 2005 OU 2006 ESCREVI ESSA CRÔNICA

          Os Heróis da Casa Rosa     

Alguém disse que o homem é o produto do meio. Nós seres humanos, somos o que fomos na infância, na juventude. Somos a educação e saúde que nos deram. Somos o que comemos, o que bebemos. Somos as praças que freqüentamos, as ruas que caminhamos, as praias e os mares que nadamos. Somos nosso passado. Daí a importância de se conservar a memória.
            Bem assim é uma cidade. Ela não existe simplesmente por suas ruas, prédios e praças. O espaço físico tem muita importância, mas uma cidade é constituída também pelos moradores, por sua história, sua arquitetura, sua natureza, sua música, sua poesia. Uma cidade tem alma e memória.
          Muitos crimes já foram cometidos nessa sacrossanta e belíssima cidade de Nossa Senhora dos Prazeres contra seu patrimônio e sua beleza.
      Deviam ir para cadeia os responsáveis por crimes ambientais e urbanos que foram cometidos em Maceió. De relance, cito algumas atrocidades cometidas, que me vêm à mente, nesse momento:
1-   O baque e morte do Gogó da Ema, coqueiro com suas curvas parecidas com o pescoço de uma ema, que foi e ainda é o símbolo das Alagoas.
2-   A demolição da cadeia publica da Praça da Independência.
3-   A doação da Praça 13 de maio para o SESC construir uma sede.
4-   A doação de uma praça na Av. João Davino para construção do Clube dos Sargentos e de um edifício de apartamentos que foi comercializado.
5-   A demolição do Hotel Bela-Vista, patrimônio arquitetônico.
6-   A doação da Praça Napoleão Goulart ao Clube Fênix Alagoana, o mais rico da cidade.
7-   A praça D. Rosa da Fonseca para o Bar do Chope no centro da cidade.
8-   Deixar cair por falta de cuidados os “7 Coqueiros da Pajuçara”
9-   Doação do Gramado da Pajuçara para um posto de combustível.
10-       A demolição de alguns belos casarões de Jaraguá, assim que as prostitutas saíram do bairro para a periferia. Foi preciso a intelectualidade alagoana gritar para o bairro de Jaraguá ser tombado.
           Esses são apenas 10 crimes cometidos que me vieram à cabeça no momento. Existem muito mais.
         Além de crime contra nosso patrimônio, nossas raízes, houve também o crime ambiental: doação de praças, áreas verdes.
            Segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS –, para uma cidade para ser respirável, ter a quantidade mínima de oxigenação,  são necessários 12 m² de área verde por  habitante. Curitiba tem 50 m²/hab, João Pessoa tem 60 m²/hab. Segundo levantamento que fiz quando Secretário no tempo do prefeito  Guilherme Palmeira, Maceió, mal chega ao ridículo 6(seis) m²/hab, conseqüência do péssimo costume político em doar áreas públicas. Se não fosse a brisa do mar, e a topografia da cidade, Maceió seria uma cidade muito mais quente.
           Na primeira metade do século passado, na praia de Pajuçara, a família Paiva construiu uma bela mansão. Na minha juventude freqüentei festas nessa casa. Quando aparecia algum amigo ou parente, turista amador daquela época, eu, com maior orgulho, mostrava  a praia da Pajuçara e a mansão dos Paiva.
       Aquela casa sempre foi referência urbana, arquitetônica e orgulho de Maceió. Tempos depois ela passou de mãos, foi sede do PRODUBAN; e por muitos anos, Secretaria de Turismo, ocupação bem adequada.
       Apesar do processo de tombamento da mansão em andamento, um grupo de italianos, que nada tem a ver com nossa comunidade, adquiriu a casa para construir um edifício de apartamentos.
     Semana passada, quando iniciaram a demolição, eis que surge um “Exército de Brancaleone” tendo à frente as generalas: Lourdinha Lyra, Solange Lages, Carmen Lúcia Dantas, Leda Almeida, e os Don Quixote: Douglas Apratto, Pierre Chalita e Francisco Valois. Num primeiro momento conseguiram sustar a demolição da mansão cor-de-rosa.
     Tomei conhecimento desse ato heróico pela televisão, ainda emocionado pelo que vi na TV, agradeço a esses heróis da casa rosa,  em nome do povo de Alagoas, pela intervenção corajosa e tempestiva.
     Quero me alistar como soldado voluntário nesse Exército, e lutar no que for preciso para conservar nosso patrimônio, nossa memória.
       Tenho admiração por Pierre Chalita, pelos seus belos quadros, por seu insistente, incansável trabalho dedicado à cultura alagoana. Depois que eu o vi na TV, numa cadeira de rodas, em frente à mansão, anunciando num desafio,  feito La Passionara: “Não derrubarão!” Eu promovi Pierre a herói.
        Pierre Chalita agora é, o  HERÓI DA CASA ROSA.

P.S. – Já havia escrito esta crônica, quando hoje me entristeci ao ler no jornal, que, na calada da noite, os aventureiros italianos, uma carregadeira, e uma liminar da Justiça, golpearam pelas costas nosso patrimônio. Demoliram a Casa Rosa.
     Que fazer? Resta apenas, oferecer esse poema de Maiakowsky aos algozes da memória de minha cidade:
     “Na primeira noite eles se aproximam, colhem uma flor de nosso jardim e não dizemos nada... Na segunda noite eles não escondem: pisam as flores, matam nosso cão e não dizemos nada... Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua e conhecendo nosso medo arranca-nos a voz da garganta...E por quê não dizemos nada? Já não podemos dizer nada...”
    Que os escombros da casa rosa, se avermelhem, se transformem em brasas, que as brasas se transformem em chamas e labaredas que acendam e inflamem as vozes, os gritos de nossa cidade. Ainda podemos falar. E aqui vai nosso grito de dor e de protesto por mais um crime contra nossa amada e bela Maceió.
    Pajuçara perdeu mais uma referência, ainda bem que o mar continua beijando as areias com mais alma e mais amor...


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