É CARNAVAL
Banho de Mar à Fantasia - Turma do Rubem Camelo
Maratona Carnavalesca na Rua do Comércio
Preparando-se para o corso: Werther Wanderley - Vadinho - Betuca -Almir - Roberto Mendes - Carlito - Melé
Há 74 anos eu
nascia num ensolarado carnaval. Aos cinco anos, fantasiado de pierrô com
lança-perfume na mão, frequentava o baile infantil da Fênix. Aos dez, moleque,
acompanhava o carnaval de rua, atrás dos blocos. Durante a juventude, depois do
ano novo, aguardava o carnaval chegar acontecendo nas pré carnavalescas, Baile
do Hawaii, Preto de Branco, o chiquérrimo Baile de Máscaras no Clube Fênix onde
a alegre e bonita burguesia em fantasia ou smoking , caía no passo. Ao
amanhecer, banho de mar na praia da Avenida.
Quinze dias
antes do carnaval a COC, Comissão Organizadora do Carnaval, realizava toda
noite na Rua do Comércio a Maratona Carnavalesca, além do corso, fila de carros
rodeando o centro, nas esquinas uma orquestra tocava frevança. Caíamos no passo
junto às meninas virtuosas, soldados, empregadas, prostitutas, o povão se
misturando na alegria da dança, sem diferenças, apenas sorrisos, remelexo do
corpo, a alegria de traçar uma tesoura nos passos de um frevo.
Domingo anterior
ao carnaval o animadíssimo Banho de Mar
à Fantasia, desfile e concurso de troças, fantasias e bloco carnavalesco. A
turma de Rubem Camelo, Bráulio Leite, Pitão, Santa Rita, Alipão, os irmãos
Moura, em cima de uma carroceria puxada a trator, fazia críticas alegres à
política, aos costumes, aos acontecimentos da época. Eles eram os arautos da
animação, além de brincarem nas ruas, frequentavam clubes e biroscas da cidade. Foliões se fantasiavam
com bom humor, Fusco, Tarzan, concorriam aos prêmios. Eu e amigos ficávamos apreciando
a passagem dos desfiles diante à Comissão Julgadora aguardando uma tradição:
todos os Blocos de Frevo ( Vulcão, Cavaleiros do Monte, Vou Botar Fora, Tudo ou
Nada, Bomba Atômica, Pitanguinha Vai à Lua, Sai da Frente, entre outros) depois
do desfile, se dirigiam à casa do Coronel Mário Lima, meu pai esperava com um
"laco-paco" de maracujá, cerveja gelada e tira-gosto, os músicos adoravam, tocavam
quatro a cinco frevos, a moçada caía no passo no enorme terraço da casa onde
nasci, um bloco de cada vez, ia se revezando. O domingo terminava tarde, minha
casa entulhada de amigos, convidados, penetras, o povo. Acompanhávamos o último
bloco até desaparecer em Jaraguá ao anoitecer..
O carnaval iniciava
à noite do sábado de Zé Pereira, primeiro eu brincava no corso em jipe, vestido
de macacão e maizena na mão, meladeira herdada dos entrudos - primeiros carnavais
no Brasil. Em toda esquina da Rua do Comércio uma orquestra de frevo animava o
povão, dançando, cantando, amores surgindo, amores fugindo, é carnaval, tudo valia, amor de carnaval desaparece
na fumaça. Quase meia-noite ao chegar em casa tomava um banho reativante rumo
ao baile do Zé Pereira no Tênis Clube. A orquestra tocava marchinhas românticas,
sambas e frevos até o dia amanhecer.
Domingo por volta das 10 da manhã a moçada já fazia fila,
matinal do Clube Fênix, o calor retumbava com a música quente no Ginásio de
Esportes, os foliões alegres bebiam de mesa em mesa, lança-perfume nos lenços e
no ar. Todos conhecidos como se fosse uma imensa família, as moças bonitas,
barriguinha de fora, dançavam em cima das cadeiras ao som das grandes
orquestras e bateria de Escola de Samba. À noite depois do corso, mais festa, mais
baile. Inexoravelmente vinham a segunda
e a terça-feira, "um pé pra frente, dois prá trás, é hoje só, amanha não
tem mais". "Oh! quarta-feira ingrata chega tão depressa só pra
contrariar". A Orquestra do Maestro Passinha dava as últimas voltas no
salão, finalmente o sol nascendo se dirigia à praia arrastando os foliões,
dançando o Vassourinha na areia branca, fria,
terminava num mergulho coletivo no mar azul esverdeado.
Cansados,
molhados, sentávamos num banco da avenida, de mãos dadas, abraçados com a namorada,
ainda tínhamos fôlego de beijar, e cantar:
"Acabou nosso carnaval, ninguém ouve cantar canções. Ninguém passa mais,
brincando, feliz, e nos corações saudades e cinzas foi o que restou... "
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