quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

UM TEXTO DE ALBERTO ROSTAND

AS PORTAS E JANELAS DE MINHA CASA

Alberto Rostand Lanverly
Membro das Academias Maceioense e Alagoana de Letras e do IHGAL
           
 Habitualmente, entre o clarear do dia e a penumbra da noite, quando acordo, a primeira coisa que faço é abrir as portas e janelas de minha casa e, logo após, sentando-me à varanda, passo a admirar a beleza de tudo o quanto acontece em meu entorno. É verão, época da preferência das andorinhas que, por nunca estarem sós e voarem em bando, fazem aumentar o calor, ainda bem cedo, nas manhãs da Barra de São Miguel, terra que a todos que para lá acorrem em busca de merecido descanso, fascina por suas belezas naturais.
Do local onde me encontro, sinto não somente o vento espalhar-se sobre meu rosto, como também que o mar está à minha frente; ouço o cadenciamento das ondas beijando suavemente as alvas areias do continente, com a mesma doçura com que um apaixonado afaga sua musa; vejo o pescador jogar ao longe sua rede de arrastar peixes com a tenacidade de um guerreiro que luta pela sobrevivência; encanto-me com o bailar das borboletas, a sinfonia dos pássaros, e, até, com o movimento dos cachorros de rua que teimam em ladrar com ou sem motivo e razão.
            As portas e janelas de minha casa servem para arejar e também decorar, mas cada vez mais me conscientizo: o que enxergo através delas muito me fascina, pois da mesma forma com que admiro a estrela que teima em permanecer bailando nos céus mesmo acabada a noite, alegro-me com a espartana passagem do ambulante, sempre no mesmo horário, invariavelmente pedalando sua bicicleta e, em alta voz, oferecendo seus produtos de excelente qualidade: olha o mungunzá e a tapioca... mostrando que é chegada a hora do desjejum.
            Diariamente, quando destranco minhas portas e janelas, deparo-me com os coqueiros lindos de meu jardim, parecendo me cumprimentarem, convidando-me para sair e viver a alegria das horas que se seguirão. Aninha, meus filhos e netos vão, aos poucos, despertando, cada um a seu tempo, e com eles os sorrisos de sempre, como uma das mais puras formas de expressão, demonstrando felicidade e entusiasmo, prenúncio de festa, de tempo para nunca esquecer: a chegada dos contra-parentes,  um churrasco, banho de piscina, muita cerveja gelada e, também, “whisky on the rocks”, tudo regado por inesgotáveis conversas que só terminam quando a lua novamente se faz presente no firmamento.
            Nunca pensei que um dia fosse escrever sobre as portas e janelas de minha casa, mas, agora que o fiz, reconheço suas importâncias em minha vida. Estou até pensando sobre as paredes que me dão segurança e sobre o telhado que me protege das intempéries e, quem sabe, me fazem até sentir-me mais feliz, valorizando cada vez mais tudo quanto me rodeia.
            É verão na Barra de São Miguel. A cada instante devemos entender que os grandes momentos que nos aguardam ocorrem quando abrimos as portas e janelas de nossas casas e, nas asas de um novo dia, partimos para o mundo em busca de renovadas conquistas e inigualáveis realizações, pois, até mesmo quando optamos por não sair dali, podemos vislumbrar as belezas do Rio Niquim, dos mangues, dos arrecifes e também das pessoas lindas, vestidas em seus maios, correndo para o mar.

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