10 de dezembro de 1920: Hoje é Hora de Clarice!
Clarice Lispector veio de longe para criar no Brasil uma literatura feminina com dimensões particulares. Nascida em Tchetchelnik, na Ucrânia, no dia 10 de dezembro de 1920, chegou ao Brasil com dois anos de idade. O destino inicial foi a capital alagoana Maceió. Três anos mais tarde, seguiu com a família para Recife, onde viveu sua infância e descobriu o prazer da literatura. Não parou mais, como era seu desejo, declarado um ano antes de sua morte, ao conquistar o Prêmio Brasília pelo conjunto de obras publicadas: "Eu não me aposentarei. Espero morrer escrevendo".
No início dos anos 30 perdeu sua mãe, Marieta, que sofria de paralisia. Nesta época, escreveu a primeira peça de teatro, Pobre menina rica, que como outros textos curtos, tentou publicar sem sucesso na imprensa recifense.
Na juventude, mudou-se para o Rio de Janeiro e em poucos anos começou a cursar Direito. Veio, então, o primeiro conto de ficção Triunfo e a experiência jornalística como repórter do jornal carioca A Noite.
Em 1942, casou-se com Maury Gurgel Valente, colega de faculdade e recém ingressado na carreira diplomática. A partir de então, começaram as viagens e as temporadas fora do Brasil. A família cresceu, tal como sua produção literária. A volta definitiva ao Brasil aconteceu no final da década de 50, quando separada do marido, fixou residência no Leme. Era o início de uma fase literária intensa.
A estréia de Clarice no Jornal do Brasil aconteceu em 19 de agosto de 1967, quando o Caderno B passou a ser publicado também aos sábados. Era um espaço semanal numa coluna quase sempre na página 2, onde transita a Clarice cronista. A começar por As crianças chatas:
"Não posso. Não posso pensar na cena que visualizei e que é real. O filho está de noite com dor de fome e diz para a mãe: estou com fome, mamãe. Ela responde com doçura: dorme. Ele diz: mas estou com fome. ela insiste: durma. Ele diz: não posso, estou com fome. Ela repete exasperadamente: durma. Ele insiste. Ela grita com dor: durma, seu chato! Os dois ficam em silêncio no escuro, imóveis. Será que ele está dormindo? - pensa ela toda acordada. E ele está amedrontado demais para se queixar. Na noite negra os dois estão despertos. Até que, de dor e cansaço, ambos cochilam, no ninho da resignação. E eu não aguento a resignação. Ah, como devoro com fome e prazer a revolta". Clarice Lispector - Caderno B do Jornal do Brasil: Sábado, 17 de agosto de 1967.Clique aqui, para ler na íntegra!
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