LA BELLE DE JOUR
Final
do ano passado, o filho Bruno fez uma viagem para Europa de 90 dias com a
esposa, deixou dois netos na casa de Fagundes. Para ajudar na tarefa Dona
Carmela contratou babá numa agência.
Fagundes atendeu quando Benedita tocou a
campainha. Morena, cabelo preto escorrido e comprido, lábios carnudos,
tornava-se atraente ao sorrir. Vestia discretamente um longo, tipo hippie,
bracelete, o corpo aparentava bem torneado.
Ele
perturbado com a visão chamou sua mulher. Conseguiu disfarçar a emoção. Carmela
acertou com Benedita, três meses dormindo em casa, enquanto Bruno fazia um
curso na Europa.
Nunca
um avô foi tão atencioso com os netos. Vivia a brincar com os meninos, todos os
dias passeava de carro com a ajuda da eficiente babá. Carmela brincava por ele
estar um avô coruja e dedicado
Fagundes se assanhava, a babá sorria,
apesar da diferença de idade sentiu que Benedita correspondia seus olhares
pedintes. Aperto de mão, acocho, um
cheiro, “ marcar cartão”, mão boba.
Num
fim-de-semana Carmela foi visitar sua irmã no Recife. Fagundes ficou dando
assistência aos netos, ajudado pela valorosa babá.
Era o
que faltava. À noite, as crianças dormiram, Benedita ficou assistindo novela na
televisão da sala. Vestia um frouxo short, blusa fina, semitransparente
realçando os empinados seios.
Ao
deparar com aquela cena, a lascívia, a libido, tomaram conta de Fagundes, o
sangue ferveu nas veias. Não houve preliminares, foi se chegando por trás da
babá, levantou o cabelo, deu um beijo molhado no cangote. Daí por diante, tendo
Deus como testemunha, amaram-se no tapete persa da sala.
Na hora do relaxe,
deitados, contemplaram o mar prateado por uma enorme lua saindo do infinito
naquela inesquecível noite de verão.
Segunda-feira
Carmela retornou do Recife de carona no carro de um sobrinho. Eram dez horas da
noite quando abriu a porta do apartamento. Nesse momento Fagundes estava
abraçado com Benedita no quarto de empregada. Ele ouviu quando a porta foi
aberta, imediatamente se enrolou na toalha, mandou que a babá trancasse a porta
e fingisse dormir.
Carmela encontrou o marido enrolado na toalha como se procurasse alguma
coisa na cozinha. Ele disse estar com fome, buscava comida. A mulher ficou
desconfiada com aquele fato inusitado. Foi ao quarto da empregada, Benedita
atendeu com uma cara muito esperta para quem dormia.
Dona Carmela sem muitos rodeios pediu a
verdade para Fagundes. Ele negou peremptoriamente, se ofendeu, não era possível
a mulher ter desconfiança depois de mais de 30 anos de casados. No outro dia a
babá foi substituída por uma senhora de 62 anos.
Essa
história foi me contada por Fagundes enquanto tomávamos uma gostosa cerveja
numa barraca da Jatiúca. Faltando dez minutos para quatro horas, ele conferiu o relógio, deixou
parte da conta na mesa, levantou-se, estendeu-me a mão, confessou.
“-Pois é irmãozinho. Para você viver bem, tem
que negar com convicção, negar sempre até o fim. Esse negócio de sinceridade,
de confessar a verdade, é morte certa, nunca cometa o sincericídio.”
Empolgado
com a história da maravilhosa babá, perguntei pelo destino da Benedita. Ele não
se fez de rogado.
“-Estou indo a seu encontro, aluguei um
apartamento no Conjunto Castello Branco. É maravilhoso e salutar o amor à tarde,
Vou aos braços de minha "belle de jour", minha paixão rejuvenescedora.”
Colocou
a mão no bolso e saiu assoviando, satisfeito como uma criança em busca do colo
de uma querida babá.

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